Colonialismo interno(Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)

Considero-me insuspeito para falar sobre o golpe militar de 1964. Como sabem meus poucos leitores, tenho obra publicada sobre o tema. Ainda bem jovem, fui vítima do movimento que castrou as liberdades civis e implantou uma ditadura cruel de mais de duas décadas no Brasil. Reitero que abomino qualquer tipo de ditadura, de direita, esquerda, centro, civil ou militar.
Também estou com Ulisses Guimarães, velho timoneiro da oposição nos anos de chumbo, pois tenho nojo e ânsia de vômito só de me referir à ditadura. Preocupa-me constatar que muitos hoje pedem a intervenção militar, diante da corrupção avassaladora que toma conta das instituições nacionais, por obra e graça do PT e do lulopetismo no poder. Trata-se de um desatino, porquanto jamais resolveremos os problemas do país sob o guante do regime ditatorial.


Lá atrás, ao contrário do que sustentam as eternas vivandeiras dos quartéis, também constatamos grandes casos de corrupção, só que éramos obrigados a engolir calados as investidas dos áulicos e apadrinhados da ditadura. Há uma sucessão de fatos que ocupariam o espaço desta página, mas não custa rememorar alguns de maior notoriedade. Tivemos os escândalos dos bancos Halles e Econômico, da Delfin, Coroa-Brastel, Eletrobrás, Lume, Lutfalla, Capemi e das licitações e construções suspeitas da Transamazônica, Ponte Rio-Niterói e Usinas d e Angra, todos ainda bem presentes na memória de quem viveu naqueles tempos tormentosos. Agora, bendita democracia. Com todos os seus defeitos, temos oportunidade, com ampla liberdade, de desancar o PT, o lulopetismo e sua quadrilha, como responsáveis pelos maiores assaltos ao erário na história do país.

Mas, voltando ao período da ditadura, como tenho admitido nestas linhas semanais, deve-se reconhecer que aqui na região auferimos uma série de benefícios, de difícil conquista em outros momentos, em função de nossa minguada ou insignificante representação política. Sem dúvida, com a Operação Amazônia, durante o governo Castelo Branco, obtivemos conquistas importantes para o desenvolvimento econômico regional, que serviram para transformar o atraso que vivenciávamos na época. Tivemos, na gestão do militar e em outras que o sucederam, a efetiva criação da Zona Franca de Manaus, a transformação da SPVEA em SUDAM, a recomposição do BASA – Banco da Amazônia S.A. e outras obras importantes, como a construção do Aeroporto Eduardo Gomes, da rodovia Manaus-Porto Velho, agora sepultada pela incúria, e a modernização do deficiente sistema de comunicação telefônica.

Sempre creditei o sucesso dessas ações à passagem obrigatória dos militares pela grande hileia, com inegável visão patriótica. Castelo Branco, por exemplo, foi comandante militar da Amazônia, quando o comando tinha sede em Belém. O general Gustavo de Moraes Rego, primo de minha mãe, dirigiu a unidade militar de Tabatinga e depois assumiu a chefia da Casa Militar da Presidência da República. Todos os que aqui estiveram mostraram-se preocupados com o desenvolvimento e a integração da região. Lembro que discuti essa questão exaustivamente com o general Orlando Sampaio, chefe do comando mi litar na área, no ano de 1987, com quem fiz algumas viagens ao interior  do Estado.

A propósito, veja-se o que disse o general Eduardo Villas Bôas, em entrevista recente ao jornal Folha de São Paulo. Ainda como comandante militar da Amazônia, pleno de razões, advertiu para a gravidade da situação da região, considerada pelo próprio como colônia do Brasil. “Ela não está integrada ao país e, portanto, não há conhecimento de sua realidade e potencial”, acrescentou. “Ela não é analisada, interpretada, estudada e compreendida”, o que a situa “numa posição periférica”, deixando que “as reais necessidades d a população da Amazônia cheguem ao centro-sul de maneira distorcida”, observa o general. “Com isso, monta-se uma base de conhecimento desfocada, com soluções não apropriadas”, com a população sem ter suas “necessidades básicas atingidas”, porquanto, em “grande parte, não há nenhuma presença do governo do Estado, tendo em vista que, “em algumas áreas, as Forças Armadas são essa única presença”, concuiu o militar.

Como se vê, não há quem possa contestá-lo. O general advoga o que arde no peito dos amazônidas, que a duras penas e em todas as latitudes insistem em ser reconhecidos como brasileiros. Enquanto isso, o país continua de costas para a Amazônia, distante dos mais justos anseios e aspirações de seu povo.

Em Manaus, capital da Zona Franca, não há demonstração de alheamento maior do que expressa a ausência do ministro Armando Monteiro Neto, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Desde que tomou posse, há quase um ano, nunca veio ao Estado. Ignora a região, indiferente às graves dificuldades que tomam conta do único modelo exitoso de desenvolvimento regional, vinculado à sua pasta, neste momento de crise econômica profunda. É muito fácil, realmente cômodo e confortável, ser ministro, ecologista, indigenista, no conforto do Sul, usufruindo de todas as benesses do Brasil desenvolvi do, insensível às agruras de povos abandonados ao seu próprio destino.(Paulo Figueiredo – Advogado, Escritor e Comentarista Político – [email protected])

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