Desemprego lidera lista de preocupações de brasileiros, que desejam carteira assinada

Foto: Reprodução

Em uma economia que dá sinais de recuperação após um período de quedas abruptas, as relações de trabalho provocam inquietações nos brasileiros. Seja pela falta de oportunidades, o desejo de um vínculo mais forte, traduzido pela carteira assinada, ou a aspiração por flexibilidade em modelos e horários no pós-pandemia, o tema é o principal destaque de duas pesquisas inéditas realizadas pelo Ipec a pedido do GLOBO. A primeira delas, feita de maneira presencial em 128 cidades de todas as regiões, expõe que o desemprego é percebido como o maior problema do país — 43% elencam o item como um dos três desafios mais graves.


Há quatro anos, a saúde surgiu na dianteira das preocupações, com o desemprego logo depois. O cenário foi modificado, entre outros aspectos, pelos efeitos da pandemia sobre o bolso da população — inflação e fome, que não apareciam em 2018, vieram à tona. Ao longo desta semana, O GLOBO vai apresentar a lista dos temas vistos com mais apreensão pelos brasileiros, com personagens simbólicos e propostas estruturais para que o país supere os obstáculos. Amanhã será a vez da corrupção, encarada como a maior barreira por 36%.

O levantamento, que ouviu 2 mil pessoas acima de 16 anos, revela ainda que a preocupação com o desemprego é maior entre as mulheres (45%, contra 40% dos homens), no grupo que parou de estudar no ensino médio (46%) e nas parcelas mais vulneráveis, já que aumenta conforme mais pobre é o estrato: 53% dos que têm renda familiar mensal até um salário mínimo tratam o assunto de forma prioritária, índice que é de de 31% entre os que recebem mais de cinco salários.

Dados não mostram tudo

Nos recortes regionais, é no Nordeste que a falta de ocupação aparece ainda com mais evidência: 46%. A região concentra quase metade dos beneficiários do Auxílio Brasil, o equivalente a 9,4 milhões de famílias. O tema também preocupa mais quem mora nas periferias dos grandes centros urbanos (51%) do que nas capitais (39%).

Ainda que haja melhora, já que o IBGE apontou, na quarta-feira, que o desemprego segue em queda e foi a 9,1% no trimestre encerrado em julho, os dados oficiais não revelam o quadro completo. Enquanto a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) enxerga no resultado um possível trampolim eleitoral, o pesquisador Fernando Veloso, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), pondera que é preciso ir além da taxa de desocupação para entender o que está acontecendo.

Na medida, entram apenas aqueles que estão procurando por uma vaga e não encontraram, ou seja, ficam fora os 4,2 milhões que desistiram. Se esses voltassem ao mercado de trabalho, a taxa de desemprego seria de dois dígitos. Já os subocupados, os que gostariam de trabalhar mais horas, ainda somam 6,5 milhões.

Entre os desocupados, um dos casos mais preocupantes é o dos há mais de dois anos sem uma vaga. Cálculos do Ibre/FGV estimam esse número em aproximadamente 3 milhões, cerca de 30% do total. Claudineia Siqueira, 43 anos, é um dos muitos exemplos. Desde a última campanha presidencial, a mãe de dez filhos vive de bicos e de assistência do governo.

A segunda pesquisa feita pelo Ipec a pedido do GLOBO, também realizada em julho, mostra a predileção pelo emprego formal: 59% disseram preferir trabalho com carteira assinada, índice alavancado por quem tem apenas o ensino fundamental. O resultado do levantamento, feito pela internet com 2 mil pessoas acima de 16 anos, das classes A, B e C, é reflexo do que acontece na vida real. A taxa de informalidade continua em um patamar em torno de 40% — cerca de 39 milhões de trabalhadores nessa condição. Também fazem parte desse grupo os que trabalham por conta própria sem CNPJ e trabalhadores familiares. O grupo é alvo dos presidenciáveis na campanha eleitoral, com promessas direcionadas, por exemplo, aos que atuam nos serviços de entrega via aplicativo.

— Apesar da recuperação vigorosa, temos uma desocupação oculta e uma grande quantidade na informalidade — diz Helio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia da USP.

Fonte: O Globo

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