Dilma em Manaus, por quê? (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)

O que Dilma viria fazer em Manaus? Estaria aqui na próxima segunda-feira, a fim de inaugurar obras de ampliação do aeroporto e uma tal de infovia. É muita cara de pau. Em boa hora, a viagem foi cancelada, mas os motivos do cancelamento não foram informados. Os serviços de inteligência podem ter detectado a possibilidade de um panelaço e outros protestos contra sua presença na cidade ou talvez o presente artigo explique um pouco a decisão presidencial.
As obras do Aeroporto Eduardo Gomes, não passaram de um puxadão, muito mal executado e inacabado. Há dois meses, encontrei goteiras no saguão principal, forros com intestinos expostos e ambientes com restos do antigo aeroporto. Por sinal, o que já se pode chamar de antigo Eduardo Gomes, à época de sua construção, no início dos anos 70, foi um dos mais modernos do país. Edificado durante o governo militar, substituiu o romântico Aeroporto de Ponta Pelada, transformado em aeródromo da Aeronáutica.


Gastou-se uma fortuna na reforma, 344 milhões de reais, como é da práxis dos governos lulopetistas, e não se teve um aeroporto compatível com as dimensões da cidade e a importância econômica do Estado. Arrastou-se desde 2011 e parecia obra de igreja. Tanto tempo, para manter o núcleo do edifício original, com uns puxadões laterais e frontais. Como resultado, uma arquitetura pesada e sem elegância, para não dizer horrorosa, com revestimentos lustrosos e agressivos, indignos do nosso mais visível portão de entrada. Tudo isso sem falar nos distantes pátios de estacionamentos, que obrigam os usuários a longos ‘coopers’, a caminho do pórtico do prédio.

Em qualquer outra grande capital do país, a obra não seria tolerada. Mas, como estamos no quintal do Brasil, na longínqua Amazônia, nestas plagas remotas vale-tudo, quando somos pelo menos olhados, embora com luneta de vasto alcance, o que somente acontece com dolorosa raridade.

O outro momento da viagem presidencial, pasmem os leitores, referia-se à cerimônia de apresentação ao distinto público do que chamam de primeiro teste da infovia do programa Amazônia Conectada. Confesso que desconhecia o termo e logo busquei socorro no cansado pai dos burros. Não no dicionário do tempo de minha velha mãe, o Lello Universal, que guardo com carinho em minha biblioteca, mas no moderno Houaiss, que define infovia como “infraestrutura para transmissão de voz, dados e imagem através de fibra óptica”. Intriga-me é que o projeto pretende levar internet banda larga ao interior do Amazonas, servindo-se das calhas dos principais rios da região. Na primeira fase, que a presidente inauguraria com pompa, a previsão é de que sejam atendidos os municípios entre Manaus e Tefé, para alcançar em outras etapas a maior parte do Solimões/Amazonas, do Negro e do Madeira. Incrível é que não temos banda larga que preste nem em Manaus, com serviços e acessos que revelem o mínimo de eficiência. Viajamos pelo ciberespaço na velocidade do tempo das diligências. No entanto, não se tem o pudor de anunciar um sistema que nem a capital possui, um escárnio.

A presidente precisa é resolver a crise que assalta a economia do país, com reflexos diretos sobre a indústria da Zona Franca de Manaus, cuja produção volta-se quase exclusivamente para o mercado interno. A situação é dramática e um pequeno espirro nos centros consumidores da região geoeconômica do Centro-Sul provoca febre alta no Polo Industrial de Manaus. Várias indústrias estão dando férias coletivas a seus empregados e outras dispensam sem alternativas. Cerca de 12.000 operários já foram demitidos e algumas empresas começam a fechar as portas, com a Zona Franca na UTI, em que pese a extensão por mais 50 anos do regime especial de concessão de benefícios fiscais, o que não basta, como se vê.

Na outra ponta, o governo lulopestita, mesmo a presidente tendo recebido no Estado a maior votação proporcional do país, continua indiferente ou de costas para as nossas aspirações e carências. Não há transferências de recursos federais para setores infraestruturais e nevrálgicos da cidade de Manaus e do Estado. A BR-319, Manaus-Porto Velho, única ligação rodoviária do Amazonas com o Brasil, encontra-se há anos intransitável, enquanto a BR-174, Manaus-Boa Vista, que chega à Venezuela, precisa de manutenção permanente, um quadro que agrava es entraves de logística para escoamento de nossa produção industrial. O trânsito em Manaus é caótico. A cidade não dispõe de transporte de massa e o transporte coletivo é extremamente precário. Uma insensatez, no mínimo, diante de tantos problemas, admitir e aplaudir a vinda da presidente a Manaus, com propósitos tão pequenos ou insignificantes.

Nem a Suframa, autarquia que administra o modelo, foge aos desajustes críticos e gerais da situação nacional, com servidores esmagados por uma política salarial injusta, e em greve, vítimas de profundas disparidades em comparação com a remuneração concedida a funcionários de órgãos similares da administração federal.( Paulo Figueiredo – advogado, escritor e comentarista político – [email protected] )

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