Domitila – por Valdir Fachini

Articulista Valdir Fachini (SP)

A Domitila morreu, mas esse acontecimento não é recente não, já faz muito tempo, vixe! faz quase meio século, eu era molecote, tava começando com a siririca, andava com a molecada no meio do mato caçando rolinha com estilingue e eu era o tal com essa arma não errava uma pedrada .
Foi numa dessas caçadas que eu trombei numa caixa de marimbondos fui ferroado da cabeça aos pés, nem o pingulim foi poupado, então a mãe me proibiu de sair de casa, fiquei de molho, ela disse que era resguardo e eu achava que isso era só quando tinha nenê.


E foi numa tarde, não me lembro o dia, o mês, se era primavera ou verão eu não sei, mas isso não vem ao caso, era de tarde, isso eu sei, ela passou em frente de casa, com seus passos tranquilos, pensamentos absortos como se estivesse caminhando no paraíso, me deu uma olhada que foi o suficiente pra balançar meu coração pré adolescente carente de carinho.

Ai eu fiquei te acompanhando com o olhar até sumir lá no alto do morro. Na outra tarde passou de novo, na mesma malemolência, então eu fui atrás dela, fui puxando conversa, na minha simplicidade de garoto contei toda minha vida, se bem que com minha tenra idade não tinha muito que contar. Ela não me disse seu nome, então a chamei de Domitila, a professora tinha me ensinado que essa mulher foi amante de D.Pedro e marquesa de Santos, eu nem imaginava o que seria marquesa, mas sempre achei esse nome bonito, então eu passei a chama-la assim.

Então eu comecei a gostar muito dela, sentia saudade se ficasse um dia sem vê-la, ficava triste por que ela nunca ia na igreja comigo nos domingos. Ela também gostava muito de mim, eu via nos seus olhos a alegria de me ver. Quando eu sentava na relva, ela se deitava e punha a cabeça no meu colo e eu ficava te acariciando por muito tempo, sentia o tum-tum compassado do seu coração e eu contando minhas aventuras, inventava histórias porquê meu repertório já tinha acabado .

Mas um dia, que triste dia, ela estava passeando no jardim do outro lado da rodovia e eu na minha inocência ou emoção não sei, gritei ……Domitiiiiiiila!…ela escutou e veio correndo, mas na sua inocência ou emoção não sei, tentou atravessar a pista sem prestar atenção, veio um carro a toda(naquele tempo, carro já corria)e catapimba, jogou ela longe, eu corri ao seu socorro mas não adiantava mais e ali naquele asfalto quente e negro, tão negro quanto a morte eu escutei sua última palavra, antes do derradeiro suspiro ela me disse ….béééé.

 

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