Em tudo, a farsa ( Por Paulo Figueiredo )

Advogado Paulo Figueiredo(AM)
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O embuste domina a cena política no Brasil. Ninguém é o que aparenta ser ou diz o que realmente sente e faz, guardadas as exceções que apenas confirmam a regra. Joga-se para a plateia – a opinião pública –, em cima da farsa, com posturas que não se conformam com a história pessoal dos atores no proscênio. Investe-se contra o governo e seus interesses, ainda que dele participando, comprometidos com a base de sustentação política do poder, com o indisfarçável propósito de obter vantagens inconfessáveis.
Tem-se uma partida de gato e rato ou de esconde-esconde. Importante é ler o que não é escrito, ouvir o que não é dito, identificar objetivos ocultos, em cada palavra ou gesto. A hipocrisia contamina a representação política e amplia a distância entre o discurso e a prática. Somente aflora à superfície o que é recomendável e fica nos bastidores o que é condenável, mais do que nunca quando o povo sai às ruas em defesa de direitos elementares.


Renan Calheiros, embora integrando o núcleo do poder, como presidente do Senado e líder dos mais influentes do PMDB, aproxima-se dos anseios da sociedade. Foi dele a devolução da Medida Provisória que reintroduzia a cobrança de tributos sobre a folha de pagamento das empresas. É ele quem acena com a reforma política e corta custos no Senado, mostrando-se sintonizado com o ajuste fiscal do ministro Levy. Insurge-se contra sanção da lei orçamentária, que permitiu o aumento dos valores do Fundo Partidário de cerca de 290 para 900 milhões de reais, iniciativa do senador Romero Jucá, amigo e aliado fiel. Aproveita-se das fraquezas de Dilma e defende o veto presidencial que não veio. E desse bolo o PT sozinho levará 118 milhões de reais, que o aliviará da não contribuição das empresas envolvidas na petrorroubalheira. Calheiros não se peja de dizer, com seu conhecido passado, que a terceirização significa uma “pedalada” nos direitos dos trabalhadores. Cede espaço às forças de oposição e às reivindicações populares, em matérias tidas como inegociáveis pelo governo. Portanto, não são animadoras as expectativas sobre a aprovação do nome do advogado Luiz Edson Fachin, indicado por Dilma para ocupar vaga no Supremo Tribunal Federal. Quem, apesar de tudo, pode apostar nas intenções e posições de Renan, conhecendo sua biografia política, que remonta à República das Alagoas, agora também indiciado nas investigações da operação da Lava-Jato?

E Eduardo Cunha, suspeito no mesmo imbróglio Petrobras, impõe sucessivas derrotas ao governo, a partir de sua própria eleição como presidente da Câmara. Evangélico, excluindo-se segmentos sociais ameaçados ou prejudicados por conta de seus ranços religiosos, vai ao encontro de algumas aspirações da população. Instala a CPI da Petrobras e apresenta emenda constitucional que limita a 20 o número de ministérios, em contraposição à estratégia do lulopetismo, que negocia apoio político e parlamentar com a ocupação fisiológica da Esplanada. Esquece que no governo o seu partido administra 7 das 38 pastas existentes. Cunha assume atitudes desafiadoras contra o Planalto, a pretexto de defender a independência do poder que preside, mas não hesita em sentar à mesa da sala de jantar do Alvorada com Dilma, que sempre lhe devotou profunda antipatia. Ousado, sai pelo Brasil afora, com a justificativa de levar o parlamento federal aos estados, com recursos orçamentários da Câmara, certamente de olho em voos mais altos.

Coroando a semana, a Petrobras apresenta seu balanço auditado, muito embora ofereça  números nem tão diretos, como seria desejável. Apurou-se um rombo de R$ 21,6 bilhões, com R$ 6,2 bilhões debitados à corrupção. No entanto, a essas importâncias somam-se as perdas patrimoniais de R$ 44,6 bilhões, provenientes da desvalorização de seus ativos, importando num prejuízo total de R$ 66,2 bilhões. Trata-se de uma agressão sem tamanho na história de nossa maior estatal, hoje a empresa mais pendurada do mundo, com uma dívida de 106 bilhões de dólares.

No plano político, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), condecora com a Medalha da Inconfidência, a mais importante honraria do Estado, o bandido João Pedro Stédile, conhecido invasor de terras produtivas e destruidor de laboratórios de pesquisa. Calheiros e Cunha entram em guerra em torno da votação do projeto de terceirização, com ameaças de paralisação do Congresso. E a linguagem de Cunha – “pau que dá em Chico dá em Francisco; engaveta lá, engaveta aqui” – é das mais chulas. Incrível, como se não bastasse, o presidente da Câmara advoga a extinção do foro privilegiado para julgamento de seus pares pelo Supremo Tribunal Federal, apostando na morosidade da Justiça, desde a primeira instância, fato que assegurará a impunidade de suas excelências.

É demais. Foi aonde chegamos com a farsa do PT e do lulopetismo no governo brasileiro. Uma tragédia, até quando? (Paulo Figueiredo – advogado, escritor e comentarista político – [email protected])

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