Figuras carimbadas(Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)

Não há um suspeito ou investigado pela Operação Lava-Jato que não tenha um passado comprometido pela prática de irregularidades ou crimes contra o erário. Todos são figuras carimbadas. Fazem triste figura, pela corrupção e pelo fisiologismo, com uma ou outra exceção, raríssima, que serve apenas para confirmar a velha regra.
Alguns deles são realmente emblemáticos e encontram-se há algum tempo no topo do poder na República, como Fernando Collor de Melo, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. O primeiro inaugurou o instituto do impeachment na história da República, ao ser defenestrado da função; o segundo teve que renunciar ao cargo de presidente do Senado para salvar o mandato; e o terceiro revela uma extensa folha corrida, desde os tempos em que foi presidente da Telerj, no Rio de Janeiro, e secretário de Habitação no mesmo Estado, gestão Anthony Garotinho.


A rigor, os três são oriundos da chamada República das Alagoas – Collor, Renan e caterva, considerando-se que Cunha ascende na vida pública sob as bênçãos de PC Farias, o notório tesoureiro de Collor, durante o curto período presidencial do alagoano. Impressiona é que, mesmo com todo esse currículo, tenham sido reconduzidos ao poder e em posição de elevado destaque no comando da Nação. Nenhum deles foi nomeado para a Câmara ou para o Senado e muito menos designados sem um único voto para a direção maior das duas casas do Congresso.

Lembro de Ulysses Guimarães que dizia a quem costumava criticar o parlamento que não se surpreendesse com o próximo a ser eleito, pois seria bem pior. O Congresso hoje espelha-se em Renan, Cunha, Collor e outros de igual jaez, como ontem traduzia-se na pessoa de Severino Cavalcanti, ex-presidente da Câmara. O pernambucano, que reivindicava no seu tempo o direito de nomear um diretor para a diretoria da Petrobras que “furasse poço”, terminou cassado. Primário, sem nenhuma sofisticação na arte de roubar, foi apanhado recebendo um “pixulequinho”, uma miséria mensal, do empresário que explorava o restauran te da casa que presidia, bem diferente de seu atual substituto, ladino e voraz.

E todos eles, com exclusão de Cunha, estão agora afinadíssimos com o PT e com o governo Dilma, exatamente como sempre estiveram com Lula, ao longo dos oito anos da presidência do metalúrgico. Integram o grande balcão de negócios do parlamento e constituem fortunas em cima de esquemas corruptos, tendo como moeda de troca o voto e o apoio ao presidencialismo de coalizão lulopetista. É evidente que sem a Lava-Jato continuariam lépidos e fagueiros, impunes e soltos, livres para dar curso às suas investidas contra os cofres da viúva. Agora, pelo menos, experimentam em Brasília o temor generalizado, porquanto p odem ser apanhados a qualquer momento pela Lava-Jato, com o pescoço próximo do cutelo do juiz Sérgio Moro ou até mesmo do Supremo Tribunal Federal, que não terá condições de resistir às pressões da opinião pública e da consciência ética da Nação.

Os novos trechos dos depoimentos de Nestor Cerveró já acendeu uma espécie de rastilho de pólvora e muitos já não conseguem mais conciliar o sono. Como se não bastasse, quem tem acesso às informações prestadas pelos diretores da Andrade Gutierrez, em processos de delação premiada, assegura que o pior ainda virá, na mesma sequência de declarações anteriores atribuídas ao ministro Teori Zavascki. Na linha de tiro, vários ex-governadores, alguns com assento presente no Senado, uma vez azeitados lá atrás com generosas e espúrias comissões, por cont a de obras faraônicas realizadas em diversas unidades da Federação. Na expectativa ou certeza de que poucos escaparão, há um verdadeiro frenesi nas altas esferas de poder em Brasília, os telefones não param e a angústia toma conta de quem pode ser a próxima vítima.

Temem porque sabem bem o que fizeram. E o senador preso, Delcídio do Amaral, ex-líder do governo Dilma e amigo do peito de Lula, jamais abandonou a hipótese da delação, como única forma de minorar sua difícil situação, como estão fazendo muitos empresários. Miram-se todos no exemplo de Marcos Valério, o homem bomba do Mensalão, que amargou sozinho as penas mais pesadas do julgamento, enquanto muitos de seus parceiros no crime já estão em liberdade.

Em ritmo lento, porém seguro, as investigações avançam e chegam ao ex-presidente Lula e sua família. Não há como fugir de suas responsabilidades com o enfadonho discurso de que nunca soube ou viu nada. E a história pessoal de cada um deles, Collor, Renan, Cunha e outros, em circunstâncias semelhantes, certamente os condenará, muito mais cedo do que se imagina.(Paulo Figueiredo – Advogado, Escritor e Comentarista Político – [email protected])

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