Geografia da realidade – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Fina do quarto mês do ano, e esta semana, fora os batidos temas da busca de um culpado pelo episodio do oito de janeiro, pouca coisa restou, então volto a escrever sobre a educação, que sempre estará na crista da onda. O descaso com a educação é a evidência histórica de que o Estado brasileiro funciona como matriz dos piores dramas sociais.


O diagnóstico óbvio de que a ignorância responde por grave injustiça na disputa pelos bens da vida jamais inspirou ações consistentes para erradicá-la. Programas ousados se sucedem no longo caminho da rotação no poder. Mas, do papel, saltam apenas medidas sem o ímpeto das políticas vinculadas à estratégia nacional. Em tempos de crise econômica, algo crônico no Brasil, entre as primeiras vítimas dos ajustes figuram as receitas destinadas aos projetos educacionais.

O Mapa do Analfabetismo no Brasil, informe do Ministério da Educação, volta a mostrar a geografia de uma realidade que é, a um só tempo, alarme e denúncia. Os analfabetos funcionais formam hoje contingente de quatorze milhões de pessoas.

Sabem mal assinar o nome ou escrever algum bilhete, mas incapazes de entender o que leem. Na área rural, muitos são acometidos de graves enfermidades, ou levados à morte, por não compreenderem as advertências contidas em rótulos de pesticidas agrícolas.

Analfabetos mergulhados em completa escuridão somam dezesseis milhões. São os que estão reduzidos ao último degrau da condição humana: vegetam no estágio crítico da ignorância. O estudo do MEC indica que 35% deles já frequentaram escolas, mas não conseguiram alfabetizar-se. A incompetência e os métodos primitivos utilizados não poderiam colher outro resultado. É causa de espanto saber que só em dezenove dos 5.507 municípios as populações têm escolaridade equivalente ao ensino fundamental.

Os indicadores do MEC não sublinham apenas a existência de instrução desqualificada e oferta muito abaixo da demanda. A distribuição dos atingidos pelo modelo excludente reproduz as desigualdades econômicas no tratamento dispensado às diversas regiões. Não é de admirar, assim, que o Norte abrigue 24,3% dos analfabetos, cerca de oito milhões. Até agora as promessas foram em vão. A omissão e a estreiteza política deram-se as mãos para converter a norma constitucional em letra morta. Emenda posterior à Carta prorrogou o compromisso até 2006.

Em onze anos, os avanços foram pífios. Resolver o problema em quatro, é conquista difícil de ser alcançada. Nada, porém, se resolve sem obstinação e ousadia. Não se deve ignorar que tudo é possível, até os milagres. Aliás, houve tempo em que os governantes acreditavam operar milagres. Depois se viu que as obras divinas não passaram de delírios. Aora vem a tona a modificação da metodologia do ensino médio, que acho uma medida acertada mas depois de bem analisada. Esperamos dias melhores, senão nosso país terá como tem hoje políticos e gestores sem a capacidade gerencial para ocupar funções necessariamente de destaque.

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