Às margens do lago Iguapenu, indígenas da etnia Mura acompanham o conteúdo da aula do biólogo e professor Valdely Kinupp, especialista em Plantas Alimentícias Não Convencionais. O cenário faz parte da disciplina Introdução à Agroecologia do primeiro módulo do curso técnico em Agroecologia, ofertado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), na aldeia Moyray, localizada no município de Autazes, distante a 112 km de Manaus-AM.
Por meio de processo seletivo que respeitou os usos, costumes e tradições indígenas, foram selecionados 30 candidatos das aldeias Moyray, Capivara, São Félix, Lago do Pauru, Iguapenu, Terra Preta Murutinga, Cuia e Trincheira. Em Autazes, o curso é ministrado no turno diurno pelo Campus Manaus Zona Leste (CMZL), tem a duração de três semestres e utiliza a pedagogia da alternância, quando as aulas são ministradas em módulos e com professores que se deslocam até a comunidade e depois retornam para o campus de origem. No caso do Ifam, o trajeto de Manaus até Autazes é feito por estrada e navegação por rios.
A iniciativa para realização do curso partiu das lideranças indígenas junto à Reitoria do Ifam, em processo que durou aproximadamente dois anos, entre audiências públicas, consultas e reuniões com as aldeias. “A parceria firmada com a prefeitura de Autazes proporciona a oferta de educação pública com qualidade aos moradores das aldeias localizadas na zona rural do município, promovendo a inclusão, cidadania e respeito à diversidade, alguns dos valores do Instituto”, disse o reitor do Ifam, professor Antonio Venâncio Castelo Branco.
De acordo com a coordenadora-geral de Políticas Afirmativas do Ifam, Clisivânia Duarte, a importância da presença da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica em comunidades indígenas está relacionada especialmente ao processo de inclusão. A pedagoga afirma que levar formação técnica de nível médio às aldeias representa um esforço institucional de cumprir com a meta prevista no Termo de Acordo de Metas e Compromisso celebrado entre o Ifam e o Ministério da Educação, relacionada à adoção de políticas afirmativas, democratização do acesso, a permanência e êxito no percurso formativo e a inserção socioprofissional, tendo como pressuposto a inclusão de grupos em desvantagem social.