Nada levamos dessa vida – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Caros leitores, amanheci com a ânsia de escrever sobre como somos egoístas, e acharmos que mesmo sabendo que um dia partiremos, a arrogância e o egoísmo faz-nos ser seres anódinos. O corpo nunca adoece antes da alma. Passamos a vida adiando o agora. Quantos acenos inconclusos, quando beijos adiados, quantos abraços esquecidos, quanta ternura poupada por conta da máxima cruel de nossa época: “não tive tempo”? questionamentos que me acompanham ao transitar, contrito, e somente pelas ideias, já que não vou a cemitério, por entre a selva de mortos nesse mar de catacumbas ou uma cidade de prédios guardando a insônia inquieta dos solitários.


Não adianta adiar o mapa do coração, dizer que amanhã é possível, ou talvez quem sabe. Estamos assim desprezando a arte de viver e o encanto que as belezas, inapercebidas por deformação profissional, trazem. Se não o fazemos para que adiantou respirar ou transitar nesse mundo sublunar? De fato, quem tem a certeza de amar e ser amado não precisa de uma justificativa material para traduzir seu sentimento. Um gesto basta. No planeta Terra não cabe solidão. A essência do abraço não está no outro. Está em nós. Abrace o outro para ser feliz. Voltando ao eixo do quotidiano, tenho a impressão de enxergar as coisas por outro prisma.

Um diamante, por mais belo que seja, precisa ser lapidado para se tornar uma joia. Observemos o sândalo que perfuma o machado que o fere. Nosso ofício de escrever deve nos levar a uma reflexão profunda da alma humana, de suas dignidades e limitações. As ações mais singelas são as que frequentemente preenchem nossos dias. Orná-las de um significado maior, valorizando detalhes, lembrando gestos, nos previnem de uma despedida invisível.

Somos responsáveis pelo nosso viver e morrer. Não podemos colher camélias se plantamos rosas. Temos de enfrentar as dificuldades do dia-a-dia sem a parcimônia do afeto, sem a sobreposição material de nossos carinhos. E deixemos que os mortos enterrem seus mortos, Jesus! Os acontecimentos, próprios da existência, interpretamos mais como tragédias do que como dádivas, e assim passa despercebida a riqueza da vida, do sonho e do tempo, tal como Shakespeare filosofou ao dizer: “Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco com o muito que temos”.

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