No reinado de Momo (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)
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Ingressamos em fevereiro no reinado de Momo, quando tudo o que é possível empurra-se para depois do carnaval, nem bem vencidas as festas de fim de ano e a ressaca janeiro. A denúncia dos políticos envolvidos no Petrolão, com foro privilegiado, a serem julgados pelo Supremo Tribunal Federal, foi adiada pelo procurador-geral da República. E são muitos, algumas dezenas, com assento no Congresso Nacional e em outros escalões de poder.


Quem não conseguiu esperar, a despeito dos apelos da presidente Dilma Rousseff, foi Graça Foster, que pediu o chapéu e foi embora da Petrobras com toda a diretoria da empresa. Mas, certamente estará presente como nunca no carnaval de rua, pelo seu tipo singular, em milhares e milhares de máscaras de foliões solitários ou em bloco, ao lado de tantos outros, que no ano de 2014 fizeram graça, nem sempre cômica e muitas vezes trágica, pelo país afora. O notório Nestor Cerveró conseguiu liminar judicial e impediu a fabricação em série de sua caricatura, mas duvido muito que não apareça aos borbotões, ainda que em produção improvisada e de fundo de quintal, pelos quatro cantos do Brasil.

Instituída nova Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Federal, a fim de apurar o desvio de bilhões de reais no escândalo da estatal do petróleo, com requerimento lido em plenário pelo presidente rebelde Eduardo Cunha, sua instalação e trabalhos inaugurais somente terão curso logo após os festejos de Momo. A 9a. Fase da Operação Lava Jato, agora com revelações bombásticas e indesmentíveis, que mergulharam definitivamente o PT e seu tesoureiro Vaccari Neto na lama, deverá de igual modo entrar em recesso, como o farão todos os membros do parlamento brasileiro.

O Brasil para completamente e o povo comunga na diversidade, em clubes, ruas e praças do país, coroando-se o período com os grandes desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo, espetáculo inigualável, que há muito tempo conquistou o calendário turístico do planeta. A festa diz muito do que fomos e do que somos, de nosso molejo e de nossa vocação permanente para o otimismo, que muito bem caracteriza o jeito de ser brasileiro, em momentos cada vez mais raros de alegria e na dor da desesperança de uma Nação sitiada pela corrupção e pelo desgoverno, agravados como nunca nestes tempos sombrios. De qualquer sorte, ainda que de passagem, a tristeza termina vencida pelos folguedos, que se espalham e deslumbram durante o tríduo carnavalesco.

Em seguida, tudo pode acontecer. Com a presidente Dilma navegando em águas procelosas, ninguém sabe se chegará a porto seguro ou a algum porto. Não são poucos os que apostam na derrocada final da administração lulopetistadilmista, quando se descobre que o PT e seu honestíssimo tesoureiro embolsaram a modesta soma de soma de 200 milhões de dólares, cerca de 550 milhões de reais. E se for apenas a ponta do iceberg, como tudo indica, não há esquema de poder que resista a tamanhos descalabros, a um assalto de tão grandes proporções ao tesouro da União, alimentado pelo escorchado e desprotegido contribuinte brasileiro. Há outros setores do governo sob suspeita, como o elétrico, que podem revelar agressões ao erário de dimensões de igual modo estarrecedoras, com todo o sistema de governo tão putrefato que onde se toca sai pus das mais malcheirosas. E fala-se também no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – o BNDES, em situação que seria ainda das mais graves.

Por enquanto, fico com o carnaval. É bem mais salutar. Não que vá cair no samba, no frevo ou nas marchinhas, pois acho que a ocasião não combina com a idade um pouco mais avançada, embora a festa tenha caráter irrestrito, por sua própria natureza. Vou entregar-me a mim mesmo e aos meus guardados, recolhendo-me, ainda que antenado a tudo em volta. Jamais serei indiferente a um bom samba novo ou a um samba-enredo da minha Portela, que sempre acompanhei na avenida, antes e depois do Sambódromo, onde estive no dia de sua inauguração com o governador Leonel Brizola.

A música me enfeitiça, erudita ou popular, e sem ela não conseguiria viver. Nesta época, pelo menos, aproveito também para lembrar dos carnavais da minha infância e juventude. Neles, as minhas marchinhas e os meus primeiros encontros de amor, memoráveis. Já em plena quarta-feira de cinzas, com os últimos e metálicos acordes dos saxes, deixava-me dominar pela saudade, sob a ilusão de vencer o tempo que chegava invariável e irritante, fechando as cortinas até um novo carnaval.(Paulo Figueiredo – advogado, escritor e comentarista político – [email protected])

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