O Canto da Peixada – por Joaquim Frazão

Joaquim Frazão é advogado

No quesito peixe, a gastronomia manauara o restaurante “Canto da Peixada” está de parabéns pois hoje está completando 44 anos de bons serviços aos amantes do peixe regional. Nessa longa caminhada assistimos muitas casas do ramo encerrarem suas atividades. Quem não lembra do Panorama, no alto de Educandos da irresistível caldeirada de tambaqui ou ainda do aconchegante Canto do Alvorada, ali na esquina da Comendador Clementino com a avenida Japurá? Sem descer ao mérito das razões de cada um, cremos que a escassez do peixe de lago como tambaqui, pirarucu e tucunaré, principais matérias-primas dessas casas, vinculada às ações predatórias de pescadores inescrupulosos e que obrigou o governo a tomar medidas proibitivas de proteção dessas espécies, foi um fator preponderante para isso. De modo que daqueles lugares pitorescos e agradáveis da cidade só nos resta a saudade e boas lembranças.


Papa João Paulo II, em visita a Manaus.

Contudo, para a nossa alegria constatamos que em meio a tantos dissabores, somados às crises econômicas por que passou o País, houve um teimoso que resistiu a tudo isso. O nosso amigo Aldenor Ernesto de Lima, 79, pescador e empresário que desde 1º de maio de 1974, mantém ali no cruzamento da Rua Emílio Moreira com a Avenida Ayrão o seu restaurante “Canto da Peixada” e, se orgulha disso. Obviamente que existem outras casas do ramo na cidade, mas o “Canto da Peixada” é a mais antiga e tradicional peixaria de Manaus, motivo de vaidade de Lima, cujo orgulho cresce à medida que vai descrevendo nomes de celebridades nacionais e internacionais que serviu na casa. Com a natural falha na memória ainda lembra do casal Tarcísio Meira e Glória Menezes e se emociona ao lembrar o dia em que seu restaurante foi escolhido para servir o almoço e a janta do Papa João Paulo II, quando de sua visita a Manaus. “…tive o privilégio de conhecer o Papa pessoalmente, foi o dia mais feliz da minha vida”, conta.

Aos 79 anos e já com dificuldade de locomoção – ele usa cadeira de roda – continua trabalhando. Chega no restaurante antes do almoço e fica até o final do expediente, por volta das 11 da noite “isso aqui é a minha vida, minha paixão, nem os problemas com a saúde me impedem…”. De fato, quem frequenta a casa, o encontra por lá aquele senhor de poucos e grisalhos cabelos, sempre alegre. É um otimista inveterado que sempre acreditou na vida. Parabéns amigo Aldenor, que você continue por mais longos anos como pescador de sonhos e fé. Que o “Canto da Peixada” continue servindo aquela costela de tambaqui assada na brasa e também aquela respeitada caldeirada, com pimenta e limão, marca da casa e assim, continuar escrevendo com letras graúdas a história da culinária amazonense. Os amantes do peixe amazônico agradecem.

*Joaquim Frazão é advogado

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