O genuflexório – Por Valdir Fachini

Articulista Valdir Fachini (SP)

E lá estava eu, debruçado no genuflexório. Eu tinha jurado a mim mesmo, que nunca faria uma loucura dessas eu que sempre fui um garanhão convicto, nunca consegui me imaginar ali.
Atrás de mim, um mundaréu de gente dizendo…bem feito. Outro tanto pensando…conheceu papudo? Uma galera cochichando…ele pensou que ia se livrar dessa e todos, sem exceção rindo.


Lá fora, quatro ou cinco jagunços, armados até os dentes, pra que eu não fugisse, dos meus dois lados, as testemunhas prontas para o veredito e na minha frente, meu algoz.

A mãe bem que me aconselhava, menino, para de fazer maldade com as moças, respeite a filha dos outros, mas eu era muito teimoso, não estava nem ai e ainda falava pra mãe, não importa se a mula é manca, eu quero é rosetar e com esse pensamento eu pegava todas, princesa, Cinderela, bruxa, beronha, pesava vinte quilos, tava no papo.

Porém, minhas aventuras sempre acabavam em B O, com a filha do delegado, eu ganhei de presente uma mão de pau, que me deixou uma semana de molho, a mulher do dentista me fez perder alguns dentes, a noiva do juiz me fez perder o juízo (se é que eu tinha algum) ainda bem que padre não tem esposa, mas tem irmã, peguei.

Uma noite, era festa de São João, o vilarejo estava todo animado, era gente pulando fogueira, uns tentando subir no pau de sebo e a Belmira de longe me olhando, então eu falei com minhas botinas, vou virar fazendeiro, me ajunto com essa baranga e me arrumo. Belmira era feia pra mais de metro, mais feia que bater na mãe por causa de mistura, mas o pai dela, o coronel Ezupério, estava montado no cascalho, nadando em dinheiro, alqueire de cana, ele tinha pra mais de cinquenta, sem contar a plantação de café, milho, cacau e umas ervas que mantinha escondidas, só ele cuidava. Boi de corte e vaca de leite, tinha a dar com pau.

Articulista Valdir Fachini (SP)

Era ali que eu ia amarrar meu burro.

Todo delicado e cheio de mesuras, puxei conversa com a donzela, meia dúzia de frases e cinco minutos de papo e já estávamos noivos.

O coronel nunca foi com a minha cara, mas na falta de pretendente, ele teve que me engolir, pouco tempo depois a herdeira estava prenhe, então ela enfeiou mais ainda, aí juntou, mau humor, mau hálito, implicância e feiura, não deu pra aguentar, desisti da herança, tirei meu time de campo, fugi da raia.

Domingo à noite, depois da missa, depois de rezar um Pai Nosso pela metade, sem prestar atenção no sermão do padre, estava eu saindo da igreja, todo tranquilão, quando dei de cara com meu ex futuro sogro e seus capangas, nem discuti, abaixei a cabeça e deixei o pau torar.

Uma semana depois, lá estava eu, debruçado no genuflexório.

Hoje o coronel sou eu, a Belmira está uma velha enxutona e bonitona (também, depois de tanta plástica) os filhos foram estudar na Europa, alguns já casaram e só com gente da alta sociedade, consegui comprar um Mustang, que era meu sonho de consumo.

A fazenda está uma beleza, milho, gado, cana, mas a menina dos meus olhos é aquela plantaçãozinha que o velho tomava conta sozinho.

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