O Perdão – Por Flávio Lauria

Flávio Lauria é professor universitário e consultor de empresas.

Nesta véspera do dia de Finados, nada melhor do que falar do perdão, principalmente para aqueles que se foram o ficaram sem perdoar seus desafetos.


Perdoar é verbo pouco conjugado no contexto de nossa cultura narcisisticamente movida a competição, a mania de grandeza, a banalização de valores, a desconsideração da importância dos outros.

Perdoar, tornou-se babaca, valor obsoleto, coisa de gente fraca, no estilo dessa cultura tolificada pela mania de revidar, de ser vencedor, de ter que sobrepujar, de passar por cima, de destituir o outro, de ser herói.
Perdoar tornou-se palavrão, coisa pejorativa, justificativa de gente sem coragem para a desforra. Mágoas, ressentimentos são freqüentes na experiência mais guardada das pessoas.

Quem já não teve seus motivos de guardar uma dor, um sentimento rebentado, uma raiva por desejos frustrados, ou até ódio por uma situação transtornada, humilhante ou injustiçada? Eu já tive, e de quando em vez tenho uma recaída. Somos todos muito capazes sim, desses sentimentos raivosos.

Eles compõem a nossa realidade humana. Contudo, é bom lembrar que nossas mágoas não resolvidas promovem sequelas muito sérias, quando as mantemos nutridas e realimentadas dentro de nós. Torna-se póssível então, uma imensa produção de destruições em nós mesmos.

A qualidade da vida interna, a saúde emocional, ficam prejudicadas nesse território amargurado, onde não sobra espaço para a alegria, a leveza, a partilha cordial, o afeto. Talvez tenhamos construído a idéia de que o perdão é uma fragilidade diante do outro que nos ofendeu. Talvez imaginemos que se trata de um fechar os olhos para a falta do outro, de desculpar seu mau comportamento ou esquecer a dor que ele nos causou.

O que não percebemos contudo, é que perdoar é útil sobretudo a nós mesmos, à nossa própria saúde. Perdoar tem mais a ver conosco do que com o outro. O perdão nos libera do peso da raiva, da mágoa ou ressentimento que nos impedem de ficar bem. Essa é uma bagagem muito pesada para nossa saúde emocional.

Flávio Lauria é professor universitário e consultor de empresas.

Se não nos livrarmos dela, adoeceremos por dentro. Neste sentido, perdoar é uma escolha que fazemos, para viver livre dos fantasmas destrutivos. Não se trata de minimizar ou negar a própria dor, os sentimentos, mas de redimensioná-los.

Quando nos impedimos de perdoar, nos impedimos também de crescer, de nos desembaraçar-nos, de sermos nós mesmos. Enquanto não perdoamos, concedemos muito poder ao outro de continuar nos afetando.

Temos o direito de ficar irados quando nos maltratam, mas perdoamos para continuar a viver com qualidade. Perdoamos para ter condições de controlar nossas emoções, para preservarmos o bom senso e resgatar em nós, a experiência de paz que pode ser sentida. Mas não perdoamos por um ato de decisão apenas. Faz-se necessário o exercício cotidiano de desculpar, de tolerar, de cascavilhar menos as faltas do outro, de perdoá-lo nos pequenos deslizes.

Se isto parecer muito difícil, vale a pena lembrar o que Cristo falou aos fariseus, rconhecendo o quanto eles eram hipócritas: “Atire a primeira pedra quem não tiver pecado”. Que ensaiemos portanto, passar do estado de raiva, de ódio, de intolerância, para um estado de compreensão do humano, em suas falhas e encantamentos. Somos todos maravilhosos e destrutivos. Capazes de amor e ódio.

 

Flávio Lauria – Professor Universitário e Consultor de Empresas [email protected]

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