O tempo tem sido cruel – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Já escrevi alguns artigos sobre o tempo, e como diz meu amigo Frânio Lima, essa azáfama da vida ás vezes nos faz deixar de aproveitar o tempo com aqueles que gostamos pela atrapalhação, pela urgência a que tudo hoje está submetido. Vivemos sob o risco de já não mais haver tempo para resgatar nossos melhores valores, passando mais uma geração perdida no eterno aguardar, permanentemente debruçada no alpendre da vida, vendo a banda do desenvolvimento (dos outros) passar. Quem tem boa noção de tempo consegue grandes realizações. Quem não conhece seu tempo está condenado ao fracasso, posto que não mede sua própria evolução, nem dá valor ao tempo dos outros.


E na velhice, se não cuidarmos enquanto é tempo, poderemos estar acompanhados do remorso, da frustração, do arrependimento, do tormento da implacável consciência e de uma solidão que para o tempo perpetuando a tortura da alma. Gilberto Gil na música Cada Tempo em seu lugar, diz: “Preciso refrear um pouco o meu desejo de ajudar, não vou mudar um mundo louco, dando socos para o ar, não posso me esquecer que a pressa é inimiga da perfeição, se eu ando o tempo todo a jato, ao menos aprendi a ser o último a sair do avião.” Os anos passam, alteram hábitos, valores, e não podemos ficar distraídos ou desligados, ignorando as marcas e rigores do tempo. Lembrando que os anos não voltam mais, nem o vigor e entusiasmo da juventude, com energia e sonhos de lutas, mudanças e ideais de uma nova sociedade, justa e fraterna. Noutras palavras, uma década, ou duas ou três, não causam grande impacto na existência de uma nação, mas são marcantes na vida de um homem ou de uma mulher.

Convenhamos que uma pessoa de mais de cinquenta anos, integrante de um mundo pleno de mudanças, deve ter noção do peso das rugas, dos cabelos brancos ou da calvície, da fase de outono ou inverno. Sabedor também que, a vivência, mudou sua aparência, sentimentos, motivando uma revisão das lutas, ideias, ou seja, uma visão mais realista, sem as convicções ou equívocos dos tempos de primavera ou verão. Nesse ambiente – primavera-verão versus outono-inverno – não tem essa de manter antigas crenças, concepções, exceto quando “algum problema” ocorreu e o cidadão, ou cidadã, tal qual Carolina, da música de Chico Buarque, não viu o tempo passar.

Os tempos coletivo e individual merecem profunda reflexão, pois há aqueles que amadurecem fora de seu tempo, trazendo progresso, bem como outros que vivem no passado, vagando entre os fantasmas que se foram. O tempo geográfico tem sido cruel. Às vezes nos falta tempo, mas devemos utilizar com sabedoria o tempo que nos resta. Aproveitemos então nosso tempo, sorvendo bons momentos de agradáveis encontros com os amigos, afinal isso é uma passagem.

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