
“Minha mãe ainda não aceitou direito a morte dele. Ela ainda fica esperando ele voltar”. A declaração é de Shirley Lima, irmã de João Paulo Lima dos Santos, assassinado aos 13 anos, com um tiro de espingarda, na tarde de quarta-feira (12), na cidade de Gurupá, no Marajó. O autor do disparo é o antropólogo e empresário francês Jean Marie, de 68 anos. A cidade ainda vive um clima de tensão e de revolta. Indignados com o crime, os moradores queimaram a casa de Jean Marie e saquearam seua dois estabelecimentos: um bar e um restaurante. Segundo a versão da família da vítima, João Paulo havia acabado de chegar da escola, onde cursava o quarto ano. “Ele era um bom aluno e um menino tranquilo”, diz a irmã do garoto. Após entrar em casa e trocar a camisa, João Paulo e mais dois primos saíram para a casa da avó.
O caminho escolhido passava por dentro das terras do sítio do francês, o que teria provocado a ira do proprietário do local (ver entrevista com a irmã da vítima à direita). Os primos contaram que o francês só chamou o menino e atirou, sem tempo da vítima esboçar qualquer reação. O assassinato abalou a cidade. Após o crime, moradores saquearam os comércios que o francês mantinha no município, ao lado da esposa e de uma filha. A chácara que ele possuía também foi incendiada.
Até a delegacia da cidade foi alvo de ameaças, já que o preso estava no local. Moradores tentaram invadi-la. Por questões de segurança, o francês precisou ser transferido para o Centro de Recuperação Penitenciária do Marajó, em Breves. No final do dia, o juiz da Comarca de Gurupá concedeu liberdade provisória a Jean Marie, que responderá ao processo em liberdade.
Na tarde de ontem, houve mais protestos nas ruas da cidade. Uma passeata clamava por justiça. Homenagens foram prestadas em pontos como a escola onde João Paulo estudava e a delegacia municipal. O garoto foi enterrado às 17h de ontem. Segundo o advogado de defesa de Jean Marie, o empresário teria atirado apenas para assustar os adolescentes.
(DOL)