Por que o Padre Lancellotti vem sendo perseguido? – por Márcia Tiburi

O padre Júlio Lancelotti em sua paróquia - Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo/Arquivo

Por que o Padre Lancellotti vem sendo perseguido se explica quando se leva em conta “quem” o persegue. Padre Julio é alvo de gente que odeia pobres, que odeia caridade, que odeia a compaixão, por um tipo de especulação imobiliária doentia, de um tipo de capitalismo necrófilo e até por pessoas das demoníacas igrejas de mercado.


Agora foi a vez do vereador Rudinho Nunes ser o autor do pedido de abertura da CPI das ONGs entrar em cena. Esse é mais um agitador do movimento extremista de direita, o famoso MBL, um movimento de espertinhos sem escrúpulos conhecidos por suas táticas polemistas, ou seja, que buscam causar polêmica para chamar a atenção e assim, assediando indivíduos e grupos, angariar espaço e visibilidade e, em ano de eleição, votos. Quem chamou esses grupos de “traficantes de votos” acertou em cheio.

Em 2017, a perseguição em série do MBL se dirigia a artistas, a partir de janeiro de 2018 eu comecei a ser perseguida por eles e tive que deixar o Brasil por isso, sendo que até hoje sou processada por Kim Kataguiri – que se elegeu deputado às minhas custas – e outros, num processo de lawfare, ou seja, assédio jurídico que não tem fim. Sempre é bom lembrar como Jean Wyllys foi perseguido tendo que sair do Brasil sob ameaças de morte e uma delirante campanha de difamação que eu também sofri.

Depois teve a CPI do MST que levou ao assassinato do irmão de Sâmia Bonfim. Sâmia incomodou os que detestam justiça social e democracia real e buscam poder através da violência, da força bruta sem limites e até da vingança. Não estou dizendo que quem matou o irmão de Sâmia foi esse ou aquele sujeito, mas que esses grupos que visam a morte dos outros, usam de diversos expedientes no processo necropolítico pelo qual atuam para se manter no poder.

Quem matou Marielle Franco em 2018, tem esse espírito de vingança contra a vida e tudo o que possa representar a dignidade do povo. Não esqueçamos da perseguição às mulheres ucranianas que levou à milagrosa cassação do embuste do Artur do Val, vulto Mamãe-mimimi, pois em geral esses sujeitos sem respeito ou escrúpulos – fascistas? Canalhas? – sempre se safam. Esse mesmo tipo estava há pouco tempo perseguindo estudantes universitárias em debates feministas tentando retomar a tática que o tornou famoso e o elegeu deputado. A escroqueria é um estilo e a escrotocracia é uma forma de governo que segue através da violência.

Agora é a vez de perseguir o Padre Júlio que nada mais faz que praticar a compaixão básica do cristianismo buscando minimizar o sofrimento dos condenados da sociedade – os que sobram como se não fossem humanos, como se fossem lixo – que estão vivendo nas ruas de uma megalópole riquíssima como é São Paulo, e que são o efeito do sistema de exclusão capitalista.

Há poucos meses vimos também a perseguição a vereadoras e deputadas de esquerda, numa visível caça às bruxas. Agora, a bruxa da vez é um padre (que paradoxo!) que está atrapalhando o ódio sem o qual a extrema-direita não existe. A prática de compaixão cristã, ou seja, de amor ao próximo, atrapalha os homens cruéis da política, que preferem a fome, a miséria, a doença, o sofrimento – para os outros, é claro – do que o amor verdadeiro que leva à dignidade.

A CPI não andou, mas a perseguição em série continuara, até por que esse ano é ano de eleição e os traficantes de votos, assediadores políticos e judiciários, terroristas midiáticos, não vão perder a chance de continuar no que eles chamam de “boquinha”, e que, gente digna tenta fazer ser política.

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Marcia Tiburi

 

 

Marcia Tiburi – Professora de Filosofia, escritora, artista visual

 

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