Putin anuncia suspensão de tratado de armas nucleares com EUA

O presidente da Rússia, Vladimir Putin - Foto: Reprodução

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, suspendeu a participação do país no mais recente tratado de controle de armas nucleares assinado com os Estados Unidos.


O anúncio foi feito nesta terça-feira (21/02) durante um discurso à nação, no qual o mandatário russo demonizou o Ocidente, às vésperas de completar um ano da invasão da Ucrânia.

“Me vejo obrigado a anunciar hoje que a Rússia está suspendendo sua participação no tratado de armas ofensivas estratégicas”, disse ele, se referindo ao New START (Tratado de Redução de Armas Estratégicas, na sigla em inglês) firmado pelos dois países em 2010.

Putin afirmou que a Rússia precisa estar preparada para testar armas nucleares se os Estados Unidos fizerem isso primeiro. Washington alegou recentemente que a Rússia havia violado o acordo ao se recusar a permitir inspeções.

O anúncio não equivale a uma retirada por completo, conforme o representante da Rússia junto a organizações internacionais em Viena, Mikhail Ulyanov, rapidamente frisou em um tuíte no qual escreveu que “um retorno ao Tratado continua sendo possível sob certas circunstâncias”.

O New START é o mais recente acordo de armas nucleares que restava entre a Rússia e os EUA — e foi prorrogado por cinco anos em 2021.

Assinado originalmente em 2010, o acordo limita cada uma das partes a 1.550 ogivas nucleares de longo alcance, número menor do que o acordo START previa anteriormente, e permite a inspeção de instalações nucleares.

Após o discurso de Putin, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, fez um apelo para que o presidente russo reconsidere a decisão de suspender o tratado.

Em paralelo, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, classificou a decisão de Putin como “bastante infeliz e irresponsável”.

‘Eles que começaram a guerra’

Em seu discurso de quase duas horas, transmitido ao vivo, Putin repetiu várias vezes que a culpa pela guerra na Ucrânia é do Ocidente.

“Quero repetir: eles são os culpados pela guerra, e nós estamos usando a força para detê-la”, declarou Putin sob aplausos, acusando o Ocidente de expandir a aliança defensiva da Otan.

“Não levam em conta os sacrifícios humanos, nem as tragédias… Vão continuar roubando o mundo todo, se disfarçando com slogans de democracia e liberdade”, declarou.

Nesse ponto do discurso, ele acusou o Ocidente de “abrir caminho” para que os nazistas tomassem o poder na década de 1930 — e afirmou que, desde o século 19, o Ocidente vem tentando tomar as “terras históricas” da Rússia, “o que hoje chamamos de Ucrânia”.

“Tudo se repete”, disse Putin, acrescentando que o Ocidente financiou a revolução de 2014 na Ucrânia que derrubou o governo pró-Rússia. Segundo ele, isso “deu origem à russofobia, ao nacionalismo extremo”.

Ele acrescentou que a Rússia havia feito todo o possível para evitar o conflito, mas que a Ucrânia, apoiada pelo Ocidente, estava planejando atacar a Crimeia, controlada pela Rússia, após ser anexada em 2014.

Putin declarou que o objetivo do Ocidente é “dirigir a agressão ao Oriente e eliminar a concorrência” — e afirmou que o Ocidente quer transformar um conflito local em um conflito global, contra o qual reagirá “de acordo”.

“Ucrânia e Donbas se tornaram símbolo da mentira total”, afirmou.

‘É impossível derrotar a Rússia no campo de batalha’

Durante seu discurso, Putin afirmou que derrotar a Rússia é impossível, e que o país nunca cederá às tentativas ocidentais de dividir sua sociedade — acrescentando que a maioria dos russos apoia a guerra.

“Eles (as elites ocidentais) tampouco podem deixar de perceber que é impossível derrotar a Rússia no campo de batalha, por isso estão realizando ataques de informação cada vez mais agressivos contra nós”, disse ele, em clara alusão às declarações do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, que afirmou que “a guerra terá de ser decidida no campo de batalha” após o fracasso do diálogo entre Moscou e Kiev.

“Obviamente, tratam-se de jovens, de novas gerações que são os escolhidas fundamentalmente como alvos. E aqui também mentem constantemente, distorcem fatos históricos e não param de atacar nossa cultura, a Igreja Ortodoxa Russa e outras organizações religiosas tradicionais do nosso país.”

“Vejam o que estão fazendo com seus próprios povos: a destruição da família, da identidade cultural e nacional, as perversões e abusos de menores, incluindo a pedofilia, são classificados como a norma, a norma de suas vidas. E o clero, os sacerdotes, se veem obrigados a abençoar casamentos entre pessoas do mesmo sexo”, afirmou o presidente russo, acrescentando que “a Igreja Anglicana, por exemplo, está planejando… considerar a ideia de um deus de gênero neutro”.

“Milhões de pessoas no Ocidente não entendem que estão sendo levadas a uma verdadeira catástrofe espiritual, as elites estão enlouquecendo… Mas esses são problemas deles, como já disse, e somos obrigados a proteger nossos filhos”, completou Putin.

A esta altura, Putin voltou a afirmar que o Ocidente está alimentando o conflito e travando uma guerra econômica — mas assegurou que nunca conseguirá nada. As sanções impostas à Rússia por vários países estão punindo eles próprios, segundo ele, que citou os aumentos de preços, o fechamento de empresas e a crise energética.

“Eles culpam os russos por tudo”, acrescentou.

BBC

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