Quem se importa? – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Se um dia, pelo menos, freou-lhe a intenção malsã, o pudor de crescente número de políticos esvai-se agora, sem encontrar resistência, assim como a morte de vários adolescentes no Rio, devido a inépcia dos governantes. No caso de reputações que derretem como gelo, quem se importa? Nossa expectativa é quase nenhuma. Nosso conformismo, pleno. Indignar-se? Quem há de? Desde que não se mexam para pior em nossos bolsos… Se algo nos atazana, para que existe afinal a internet? Basta aderir a algum manifesto de ocasião, repassá-lo ä nossa rede de contatos e tocar a vida adiante.


Ela, por si, já é severa em excesso. A mais recente eleição se deu a menos de dez meses. A próxima será daqui a um ano. Estamos prontos a renovar a confiança no mesmo tipo de gente, alvo, amiúde, de nossa repulsa retórica. O paradoxo não nos atormenta.

O argumento é simples: em que parte do mundo é diferente? No Egito? Nos Estados Unidos? Na China? Na Rússia? Simplicidade e verdade rimam, mas isso convenhamos, está longe de ser uma solução. Richard Nixon renunciou ã presidência dos Estados Unidos porque mentiu ao país. Deputados ingleses, foram obrigados a devolver benefícios ilegalmente auferidos. De resto, sabe o que mais? Quer saber? Às favas com os maus exemplos alheios. Por serem tolerados em tantos sítios, não deveríamos nos sentir forçados a tolerá-los por aqui. Parece distante o tempo em que padecíamos do complexo de cão vira-lata, feliz expressão cunhada nos anos 50, pelo escritor Nelson Rodrigues. Na política, admita-se, o complexo ainda sobrevive e estamos confortáveis com ele. Quem liga para o troca troca de cargos do Centrão? Quem liga para as presidências das mais importantes comissões permanentes da Câmara dos Deputados estão reservadas para sujeitos protagonistas de escândalos? Se os Diretores da agora privatizada Eletrobrás ganham mais de trezentos e cinquenta mil reais por mês? Quem liga se o governo que tem oito meses de mandato garante a fidelidade de alguns partidos à custa de maciça liberação de verbas? Pouco se nos damos se ninguém sabe o real motivo do apagão acontecido a poucos dias.

Jaz nos arquivos da Receita Federal, em Brasília, uma carta do atual presidente do maior parido da Câmara, Waldemar Costa Neto, partido cujo apoio à candidatura de Bolsonaro custou ao PL a módica quantia de 12 milhões. Costa Neto comunicou à Receita que o inspetor do aeroporto de Cumbica, em São Paulo, perdera sua confiança. Chocado caro leitor? Por suposto que não. Quem liga? Um pouco entediado, talvez, com a natureza de um reles texto destinado a ser esquecido daqui a instantes. Assim como gorda parcela de vocês já esqueceu em quais candidatos votou em outubro último.

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