Reflexões sobre a derrota

Advogado Paulo Figueiredo (AM)

Paulo Figueiredo


Leonel Brizola dizia que candidato a mandato político ganha ou perde em função do adversário a ser enfrentado. Explicando com singeleza, o líder gaúcho comparava a disputa eleitoral a um campeonato de natação, ganharia quem nadasse melhor do que o oponente. À primeira vista, a conclusão pode soar como truísmo, mas nem sempre ou quase nunca é assim entendida pelos contendores, que invariavelmente encontram desculpa diversa para o insucesso.
Evidente que para se chegar à piscina ou ao mar, numa disputa olímpica ou fora dela, há todo um conjunto de ações preparatórias, com adestramentos permanentes, uso de técnicas consagradas, equipes competentes, orientações de treinadores de nível, dedicação e muito sacrifício. Que o diga o nosso Roberto Caminha Filho, dos maiores especialistas no assunto, com direito de corrigir qualquer omissão ou deslize deste simples articulista de ocasião. Em política, segundo a linha defendida pelo engenheiro Leonel, observa-se a mesma situação, mudando o que deve ser mudado, porqua nto há que se ter um postulante preparado, com um quadro de assessores capazes, que possam identificar as vantagens do candidato assistido e as vulnerabilidades do concorrente, na preparação de uma comunicação consistente e um discurso convincente, com muita determinação e disposição para a luta política.

Advogado Paulo Figueiredo (AM)
Advogado Paulo Figueiredo (AM)

Vencerá quem melhor se houver, com seu arsenal de apoio, antes e no ato final do confronto. Portanto, em princípio, não há justificativas que possam explicar a derrota, a não ser o reconhecimento de erros cometidos sob a responsabilidade do próprio derrotado e de seu grupo político. Afinal de contas, todas as regras e condições em jogo já são de conhecimento prévio. Como desconhecer ou imaginar, por exemplo, que um candidato à reeleição deixaria de usar sob seu comando o poder da máquina pública em seu benefício, sem ser ingênuo ou tolo? No Brasil, isso é m ais do que natural e esperado, fato que me fez sempre ter posição contrária ao instituto da reeleição, em qualquer esfera da Federação. Fora daí, como diz o aforismo, tudo não passará de desculpa imprópria e esfarrapada.

Assim, em qualquer processo de autocrítica, aconselhável para quem ganha, mas fundamental e indispensável para quem perde, impõe-se ao derrotado, antes de tudo, um olhar para dentro, no âmago de suas próprias fileiras de assessores e conselheiros. Neles e no candidato, sem dúvida, estarão as razões maiores do malogro ou fracasso, quase sempre, como fruto da arrogância e da onipotência. Em certos casos, a falta de humildade e da capacidade de ouvir  pode ser fatal, especialmente a quem poderia contribuir de alguma forma, ainda que modestamente, para o êxito da campanha.

Na atualidade, inteligente é o político paciente, que sabe escutar, que se aconselha, mostrando capacidade para separar o que deve ou não ser aproveitado, pois haverá sempre alguma margem para o aprendizado, mesmo que presente nas pessoas mais simples do povo, sob determinadas circunstâncias, prenhes de sabedoria. Na outra ponta, a afetada superioridade, que implica em autossuficiência e isolamento, conduz inapelavelmente ao desastre. De plano, afasta qualquer possibilidade de avaliação crítica dos projetos eleitorais e políticos postos em execução, dificultando ou impedindo a identificação de desvios de caminhos ou desregramentos, que possam redundar numa sucessão de equívocos, com o comprometimento definitivo das possibilidades de vitória no pleito.

Ao verificarmos a história das eleições, tanto no Brasil como no Amazonas, há disputas políticas que guardam oportunos e significativos ensinamentos, com o êxito eleitoral de quem jamais se poderia supor vitorioso, ainda que, a rigor, sem maiores surpresas, numa análise mais criteriosa e profunda. Nas hipóteses, em vigência as constatações referidas de Brizola, tendo-se ele mesmo como paradigma, no momento em que derrotou poderosas e até então invencíveis máquinas do poder federal e estadual, no Rio de Janeiro, no início dos anos 80 do século passado, em campanha memoráve l da qual participei. O sabe-tudo ou sabichão, do alto de sua enganosa sapiência, será sempre mau conselheiro, péssimo assessor, fator de desagregação e distanciamento, com efeitos previsíveis e altamente negativos, muitas vezes incontornáveis.

Tem-se, desse modo, um conjunto de atos e circunstâncias a serem considerados com bastante cautela, na formulação de um projeto de poder fundado no voto popular. Uma conclusão resulta elementar: ou o candidato nada melhor, em todos os sentidos, desde as estações inaugurais da campanha, ou jamais se sagrará campeão. Uma lição primária, mas que nem sempre é absorvida.(Paulo Figueiredo é Advogado, Escritor e Comentarista Político – [email protected])

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