Rombo de R$ 1 trilhão pode demitir Campos Neto do Banco Central

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. foto: Agência Brasil

“Erro contábil” de R$ 1 trilhão pode tirar Campos Neto do BC. Processo de 2019 aberto no Tribunal de Contas da União aponta rombo trilionário e é estudado pelo governo como a possível brecha para ganhar disputa sobre queda da Selic


Já é de conhecimento público a insatisfação do Governo Lula com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em relação à manutenção da Selic em 13,75%, anunciada na última quinta-feira (22).

Dessa vez, aliados de Lula (PT) no Congresso Nacional estudam a possibilidade de utilizar um processo aberto em 2019 no Tribunal de Contas da União (TCU), que aponta um “erro contábil” de R$ 1 trilhão, como a brecha para retirar o presidente da autarquia.

O processo apura as inconsistências apontadas, à época, pela Controladoria-Geral da União (CGU). O rombo trilionário se refere ao balanço do BC naquele mesmo ano. Para os auditores do TCU que avaliaram os dados advindos da ação, a documentação analisada não refletia a situação patrimonial, o resultado financeiro e nem o fluxo de caixa do BC, conforme relatório publicado.

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Os auditores contratados pelo Banco Central alegam que não há nenhum erro no balanço e que os balanços dos anos posteriores foram aprovados sem ressalvas pelo TCU. O órgão ainda apontou que o balanço de 2019 foi auditado e aprovado pela KPMG, empresa que faz auditorias independentes.

A explicação dos auditores foi dada ao ministro Jonathan de Jesus, do TCU, que também é deputado federal pelo Republicanos. Jesus ficou com a relatoria do processo após o antigo relator, ministro Bruno Dantas, passar a presidir o tribunal, o que o obrigou a deixar as relatorias que exercia. Logo que assumiu o caso, o novo relator solicitou uma série de documentos que agora estão passando por análise.

De acordo com os aliados do Governo Lula, se o BC for condenado em plenário no TCU, uma brecha poderia ser aberta para que o Senado abrisse um processo de cassação de Campos Neto. A possibilidade existe, e a defesa do presidente do Copom (Comitê de Política Monetária; que estipula das taxas de juros) do BC está trabalhando para evitar a abertura da brecha.

“O caso se trata de uma mera divergência de interpretação entre o BC e a CGU sobre a forma de divulgação do fluxo de caixa em moeda local ou a segregação entre circulante e não circulante”, diz nota do BC à imprensa que antecipa o argumento da defesa.

Governo Lula x Banco Central

Após o bolsonarista Roberto Campos Neto, alçado pelo ex-presidente à Presidência do Banco Central, declarar guerra ao governo com a manutenção da taxa Selic em 13,75%, Lula voltou a criticar a política monetária da instituição e mirou o economista, convocando a sociedade brasileira a entrar na “briga” para baixar os juros.

“Quem está brigando com a taxa de juros é a sociedade brasileira, não o governo, porque é irracional o que está acontecendo hoje no Brasil. 72% da população brasileira está endividada. Não há crédito. Eu tenho cobrado dos Senadores que colocaram esse cidadão no Banco Central”, disse Lula em Roma na manhã da última quinta-feira (22), antes de embarcar para a França, onde encontrará o presidente Emmanuel Macron.

A manutenção dos juros escorchantes causou indignação no governo e entre empresários do setor produtivo, que acreditam que Campos Neto busca forçar uma crise, provocando sua demissão, para prejudicar a política econômica de Lula.

A consternação foi maior por causa dos números apresentados pela Economia, com inflação em queda e crescimento do PIB acima das previsões dos agentes do sistema financeiro ouvidos pelo próprio Banco Central no boletim semanal Focus, que já projeta um crescimento do país acima de 2% em 2023.

Em sua fala, Lula citou que está falando com senadores. O único caminho para exoneração de Campos Neto passa, necessariamente, pelo Senado, caso o governo peça a demissão por “comprovado e recorrente desempenho insuficiente” do presidente do BC na condução da Política Monetária.

Para isso, o Conselho Monetário Nacional (CMN) precisa buscar aval da Presidência da República para a exoneração, que precisa ser aprovada por 41 dos senadores. Principal articuladora de uma queda de Campos Neto, Gleisi Hoffmann classificou como sabotagem a manutenção dos juros em 13,75%.

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