São Paulo em pânico – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Como o Rio de Janeiro, que vive com a epidemia de corrupção, com todos os seus governadores nos últimos 16 anos presos e agora o atual sendo também acusado, São Paulo também vive seu momento de pânico. Esta cidade que ao longo de quase quinhentos anos, não teve as benesses da natureza, já que não lhe foi pródiga como quando emoldurou o Rio de Janeiro no quadro de montanha e mar. O Rio Tietê, que servira de acesso à invasão do sertão de maleitas e esmeraldas por entradas e bandeiras e depois se tornou duto de dejetos, jamais espelhou em suas águas espessas o lindo casario do Porto, que o Douro reflete.


Concreto, cal, vidro e cimento substituem as pedras da Roma dos Césares e dos Papas, que registram a permanência da obra humana no tempo. Obra de improviso e acaso, este burgo impermeabilizou as várzeas dos Rios Tietê e Pinheiros com estéril capa de asfalto. Seus bairros, trepados em encostas ou deitados em vales, não foram planejados por urbanistas de gosto celebrado, como a Paris refeita por Haussman.

Qual Nova York, capital do mundo, é uma metrópole cosmopolita e hospitaleira, mas lhe falta o charme da cidade de Tom Wolfe e Lou Reed.

Como uma madrasta capaz de compensar escassos dotes físicos com doses maciças, senão de afeto pelo menos de nutrição, esta quase quinhentona adolescente sempre absorveu forasteiros na voragem de suas desmedidas, mas também em sua capacidade de remunerar os suores do rosto, não como mimo, mas com uma justa paga. Essa tem sido sua saga: mastiga e engole, abriga e guarda, mas nunca foi de expulsar. Ao se aproximar da metade de seu quinto século de existência, contudo, este organismo de mais de uma dezena de milhões de almas parece estar largando a pele de fada madrinha e vestindo as escamas de bruxa malvada. Seus filhos e afilhados, sobrinhos e enteados são tratados com desafeição. De repente, a cidade que, mesmo desamada, nunca desamou, virou pelo avesso. O urro permanente da fera ferida, saído dos motores dos veículos ao longo dos engarrafamentos e das fábricas, não parece mais gemer de dor, mas espumar de ódio. Seu rosto desdentado, de tantas ruas esburacadas, se contorce num esgar de fúria e num espasmo de horror.

Um fantasma ronda os milhões de almas que fazem seu sangue circular: o espantalho da violência. A megalópole não mastiga mais seus habitantes com cuidado e desvelo: os tritura na impiedade das esquinas sem sequer respeitar a intimidade dos lares.

A estupidez de crimes com características de um curto circuito mental, como muitos outros assassinatos, mostram a face assassina de uma cidade que ainda tem o seu glamour, mas está em pânico. Rezemos para que Manaus não chegue a esse extremo o que parece estar chegando.

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