Saudade – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Às vezes dizemos estou com “saudades”, principalmente quando, familiares, amigos passam para outro lado do espelho, e para mim, claro que quando morre alguém a saudade dói, mas sinto muito mais saudades das pessoas que não vejo a algum tempo, e que representam muito. Resolvi então pesquisar sobre a palavra saudade, que dizem, não ter tradução nem nenhuma palavra com igual sentido.


A palavra mais difícil de traduzir é ilunga (escolhida entre mil tradutores profissionais); vocábulo pertencente ao idioma africano Tshiluba, falado no sudoeste da República Democrática do Congo, que significa uma pessoa disposta a perdoar qualquer maltrato pela primeira vez, a tolerar o mesmo pela segunda vez, mas nunca pela terceira vez. Em segundo lugar ficou a palavra shlimazi, em iídiche (língua germânica falada por judeus, especialmente na Europa central e oriental), que significa “uma pessoa cronicamente azarada”; e em terceiro, radioukacz, em polonês, que significa “uma pessoa que trabalhou como telegrafista para os movimentos de resistência ao domínio soviético nos países da antiga Cortina de Ferro”.

Segue-se pela dificuldade de traduzi-las: naa do idioma japonês, palavra usada apenas em uma região do país para enfatizar declarações ou concordar com alguém; altahmam (árabe) um tipo de tristeza profunda; gezellig (holandês) aconchegante; saudade (7ªcolocada nesta lista); selathirupavar (tâmil), (língua falada no sul da Índia), palavra usada para definir um certo tipo de ausência não-autorizada frente a deveres; pochemuchka (russo) uma pessoa que faz perguntas demais; klloshar (albanês) perdedor. Provavelmente o significado dessas palavras poderá ser encontrado nos dicionários, porém o que vale nelas é o que representam como experiência cultural.

A palavra saudade vem do latim Solitate. Significa lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de as tornar a ver ou a possuir; pesar pela ausência de alguém que nos é querido. Recordação meiga e melancólica de pessoa ausente, local ou coisat distante, que se deseja voltar a ver ou possuir. Durante séculos, aprendemos a olhar para a saudade como patrimônio exclusivo da língua portuguesa: ausência, distância, melancolia, estado de alma permanente e perpétuo de um amor que se foi ou de algo bom que nos aconteceu. Crescemos a aprender que a palavra saudade não tinha tradução em qualquer outra língua do Mundo. Em hebraico existe um equivalente preciso da nossa saudade o nome dela é Ergá.

Usada durante milênios por rabinos, filósofos e poetas judeus para traduzir os mesmos estados de alma, ergá é indubitavelmente a saudade hebraica. Há mesmo quem sugira que a saudade entranhou a alma lusa por via judaica, e que uma das suas maiores manifestações coletivas, o Sebastianismo, poderá muito bem ser uma transmutação do messianismo dos judeus e cristãos-novos portugueses do século XVI. Não existe tradução para a palavra saudade em outras línguas, mas apenas o seu equivalente, ou seja, sinto a sua falta. E nós, brasileiros, sabemos que sentir falta não é o mesmo que sentir saudade. Somos descendentes de povos que mistura saudade dos mais diferentes lugares. Saudade à brasileira deve ser como o banzo do negro escravo: Sente-se. Deixei para o final do artigo, para lembrar com saudade, de amigos que se foram sem citar familiares meus, como Raimundo Cabral, Sergio Sanches, Porfirio Lemos, Adalberto Bonfim, Antenor Mendes, Guilherme Aluísio, Elcy Barroso, Lucia Ramalho, Nazaré Lapa, Leal da Cunha, poderia citar mais de trinta, mas hoje reverencio a Celerino Leite e a Fabio Mendonça que nos deixaram esse mês. Sinto saudades, e como disse no início, sinto muitas saudades de amigos e amigas que não vejo, mas estão vivos.

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