A nossa corrupção – por Isabela Abes Casaca

– Pergunto com toda a franqueza: quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficientes para atacar a minha honra? – bradou uma voz de cima do palanque.


Fica a pergunta: Quem? Não precipitarei-me, em considerar-me diferente de quem está sobre o púlpito. O filósofo cristão, Santo Agostinho, desenvolveu ao longo de sua vida uma estudo sobre o mal, em seu livro Confissões e De Magistro, elabora as seguintes constatações:

A debilidade dos membros infantis é inocente, mas não a alma das crianças. Vi e observei uma, cheia de inveja, que ainda não falava e já olhava, pálida, de rosto colérico, para o irmãozinho colaço.

Para Agostinho de Hipona; as crianças, mesmo as mais pequenas, possuem o mal/corrupção dentro de si, só não o praticam como um adulto, pois lhes falta força e oportunidade.

Será que, a mesma reflexão agostiniana aplica-se a nós? Será que, apenas nos falta uma ocasião para cometermos os grandes ilícicos cometidos pelos poderosos? Há um ditado que enuncia: A oportunidade faz o larápio: quem não tem a oportunidade de roubar, se diz um homem honesto.

É uma ideia bem medieval conceber o ser humano como mal, sei que está absolutamente fora de moda, ainda mais depois do conceito de bom selvagem, cunhado por Jean Jacques Rousseau, em seu livro Do Contrato Social: “homem nasce bom e a sociedade o corrompe“. É uma ideologia atraente, porém as ideias não correspondem aos fatos. O comportamento do próprio Rousseau desmente sua tese. O ilustríssimo iluminista, que de iluminado nada tem; não era nenhum exemplo de bondade.

Se estudarmos a biografia do teórico supracitado, constataremos que este abandonou os cinco filhos em um orfanato, costumeiramente mentina, teve inúmeras concubinas; uma delas Françoises-Louise de Warens, uma senhora muito mais velha que ele, que bancava seus caprichos, e quando esta não tinha mais nada a oferecer, foi abandonada. Só pelos fatos enumerados, é perceptível que não é nenhum exemplo notável de moralidade, né?

Um intelectual que retoma a ideia de maldade inerente ao homem, é o psicanalista Carl Gustav Jung, em seu livro Memórias, Sonhos e Reflexões, narra-nos um caso: “Um chefe de Estado declarou recentemente, dando provas de uma ingenuidade genial, que não possuía ‘imaginação para o mal’. Isto me parece muito pertinente: nós não possuímos nenhuma imaginação para o mal, mas ela nos possuí.

Jung considera que o mal tornou-se uma grande potencia visível, onde uma parte da humanidade apoia-se em uma doutrina vã, fabricada a golpes de elucubrações humanas. Muito embora a relativização instaurada, não contribua para a percepção do errado e do certo, “a relatividade do ‘bem’ ou do ‘mal’, não significa de forma alguma que essas categorias não sejam válidas ou não existam. O discernimento moral existe sempre e em toda parte“.

É importante salientar; a corrupção/mal não precisa chegar a níveis exorbitantes, para ser o que é. Existem maneiras sutis de demonstrar conduta corrupta: inveja, infidelidade, vaidade, flerte compulsivo, covardia, avareza, preguiça, ciúme, arrogância, ira, egocentrismo, gula, impaciência, luxúria, soberba, egoísmo, falsidade, orgulho etc. Cabe a cada um de nós examinar a própria conduta para identificar os vícios.

Aquele indivíduo que “desejar encontrar uma resposta ao problema do mal, tal como é colocado hoje em dia, necessita em primeiro lugar de um conhecimento de si mesmo, isto é, de um conhecimento tão profundo quanto possível de sua totalidade. Deve saber, sem se poupar, a soma de atos vergonhosos e bons de que é capaz, sem considerar a primeira como ilusória ou a segunda como real. Ambas são verdadeiras enquanto possibilidades e não poderá escapar a elas se quiser viver, sem mentir a si mesmo e sem vangloriar-se“.

Não pretendo desresponsabilizar nenhum partido corrupto. Apenas quero lembrar da nossa própria corrupção/maldade. Quanto mais cedo nos conscientizarmos dela, mais eficaz será o nosso combate, e mais rápido poderemos fortalecer em nosso coração, nossas virtudes. Desconfiar de nós mesmo, é importantíssimo para coibirmos a corrupção que ainda nos habita, há um provérbio que orienta: Se vigilante contigo mesmo.

É bem verdade que o ser humano, não é em sua totalidade constituído do mal; dentro de nós há o bem e a bondade. Mas, não sejamos tão apressados em nos considerarmos “do Bem”…

quino038

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