Brasil possui metade dos empregos com carteira assinada concentrada em 60 cidades

Foto: Reinaldo Canato/VEJA.com

O maior número de profissionais ocupados no Brasil desde 2012 não se reflete na chegada das vagas formais a todos os trabalhadores. Entre os 41,7 milhões de postos de trabalho com carteira assinada contabilizados em maio, pouco mais da metade está presente em 65 dos 5.571 municípios registrados no país.


Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) colocam a cidade de São Paulo (SP) como o destaque da lista, com 10,7% dos vínculos celetistas no Brasil. Na sequência, aparecem Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF) e Curitiba (PR). Juntas, as cinco capitais respondem por um de cada cinco postos formais do Brasil.

Por outro lado, são necessárias 5.098 cidades entre as que menos empregam formalmente para preencher a mesma quantidade das cinco líderes do ranking. Todas elas têm menos de 0,03% do estoque total de vagas com carteira assinada.

Há, inclusive, municípios com saldo negativo de postos com carteira assinada. Segundo o Ministério do Trabalho, os casos “podem ocorrer em cidades com baixos estoques de emprego formal quando empresas registram desligamentos de trabalhadores que não tiveram admissão registrada previamente”.

Luis Henrique Borrozzino, economista sócio do M3BS Advogados, avalia que a desigualdade existente no mercado formal de trabalho beneficia as regiões mais evoluídas financeira e estruturalmente. “Os municípios que mais concentram as vagas formais de trabalho são os mais evoluídos”, afirma ele.

Para Homero Guizzo, economista da Terra Investimentos, a concentração geográfica na geração de empregos é reflexo da atividade econômica, já que as cidades que mais empregam respondem pela metade do PIB (Produto Interno Bruto) — soma de todos os bens e serviços produzidos no país.

“Há, também, municípios muito pequenos onde a informalidade é predominante, daí o número diminuto de vagas formais. Padrões parecidos podem ser encontrados em outros países”, observa Guizzo.

Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos, vê a força de trabalho, tanto industrial quanto do setor de serviços, centralizada em alguns grandes municípios. Ele prevê uma elevação da concentração de vagas como reflexo da retomada pós-pandemia.

Na percepção de Meira, tal centralização das vagas também reflete a formalização de trabalhadores que antes atuavam como “invisíveis”. “O que tem ocorrido é uma maior geração de vagas no setor de serviços com o surgimento de microempreendedores individuais. Essa é uma concentração que não é tão ruim, porque há uma maior densidade populacional”, analisa.

Reforma administrativa

Foto: Edu Garcia/R7

Diante da disparidade do número de vagas, os especialistas consultados pelo R7 defendem a necessidade de uma reforma administrativa para corrigir os gargalos na formação dos municípios brasileiros, mas divergem sobre o melhor indicador a ser usado para embasar a discussão.

“Além da reforma administrativa, as cidades necessitam de incentivos para redução da desigualdade e, sobretudo, de uma mudança cultural e de educação”, avalia Borrozzino, ao destacar que a concentração reduz a arrecadação dos municípios e prejudica o avanço das economias locais.

Guizzo, por sua vez, afirma que pouca coisa pode ser feita pelo governo para interferir na reversão do cenário. “A redução da concentração do emprego será um processo lento e orgânico que acontecerá à medida que o interior do país e as cidades menores crescerem mais que os grandes centros.”

O economista da Terra Investimentos destaca ainda que os números revelados pelo Caged não correspondem à melhor medida para defender a adequação de uma reforma na estrutura de municípios brasileiros.

“O fato de muitos municípios dependerem quase que exclusivamente de repasses do FPM [Fundo de Participação de Municípios] para pagarem suas despesas correntes representa muito melhor a inconveniência de permitir a criação de municípios e toda uma estrutura administrativa que os acompanha, sem uma ponderação cuidadosa sobre sua sustentabilidade fiscal de longo prazo”, completa Guizzo.

R7

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