Debate entre Aécio e Dilma(Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo/AM
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O marketing político hoje dá as cartas em qualquer campanha eleitoral. Prepara os programas que são exibidos no comício eletrônico, maquia os candidatos e elabora os discursos a serem levados ao público. Escreve o roteiro da peça, monta o palco, define a roupagem do ator e o desempenho do personagem, sempre de olho na grande plateia, em suas inclinações e reações, aplausos e apupos.

E tudo é medido no chamado “tracking”, em pesquisas diárias, com base nas quais ou é mantido o rumo adotado ou dita-se uma reorientação geral ou parcial. O candidato é apresentado de acordo com as expectativas da população e diz o que o povo quer ou gosta de ouvir, apenas e tão somente, devidamente embrulhado em papel de presente, como produto pronto para ser consumido. Em princípio, não é e jamais será o que aparenta ser, no rádio, na televisão e no conjunto dos meios de comunicação.


De todos os atos e fatos da campanha, autenticidade, ainda que em termos, somente é encontrada nos debates e nas entrevistas não concertadas com os candidatos. Em termos, porquanto, mesmo nessas ocasiões, tem-se a posição antes ditada pelo marqueteiro, fruto do projeto que baliza o comportamento de cada um dos postulantes. Mas, com os inevitáveis atropelos, são os melhores momentos da campanha, pois é possível enxergar melhor quem é quem na disputa, com a  análise de cada um e a apresentação de propostas e projetos de governo e administração.

No debate travado entre Aécio Neves e Dilma Rousseff, promovido pelo SBT/UOL/Jovem Pan, nesta quinta-feira passada, as vísceras foram expostas, um lado negro que nem sempre os marqueteiros permitem que venha a público. Até então, tinha-se como verdadeiro o entendimento de que perdia a eleição quem batesse pesado no adversário, com baixarias e acusações no mínimo injuriosas.

Nestas eleições, no entanto, a regra foi abandonada pela candidata do PT e seu marqueteiro. Logo partiram para o tudo ou nada. No primeiro instante, em cima de Marina Silva, que, candidata após a morte de Eduardo Campos, superou Aécio e aproximou-se perigosamente de Dilma nas pesquisas. Em seguida, contra o tucano, que disputa com vantagem numérica o segundo turno com a petista, um vez tecnicamente empatados dentro da margem de erro.

Foi nesse clima que ocorreu o debate desta semana. Dilma foi dura e implacável, mas, extremamente vulnerável, recebeu o troco na mesma moeda ou com alguns decibéis acima. Não teve como explicar o Mensalão, a sucessão de escândalos da Petrobras, a corrupção na Casa Civil, com sua amiga do peito e braço direito, Erenice Guerra, e nem encontrou justificativas para o nepotismo cruzado proibido por lei e operado com a nomeação de seu irmão, Igor Rousseff, para um alto cargo na gestão petista da Prefeitura de Belo Horizonte. De igual modo deixou sem resposta ou explicação para as centenas de obras paradas em seu governo, integrantes dos Programas de Aceleração do Crescimento, em função dos quais foi nomeada “gerentona” por Lula, além da execução em percentuais ridículos dos orçamentos da segurança pública e em outras áreas nevrálgicas do governo, em crise permanente.

Diga-se que Aécio Neves tentou elevar o nível do debate. Mas, impedido por Dilma, que o questionava raivosa sobre o Aeroporto de Cláudio, município de Minas Gerais, cuja denúncia foi arquivada pelo Ministério Público, e sobre o emprego não provado de parentes, foi obrigado a devolver-lhe as incriminações, em tons sempre crescentes, que a deixaram sem saída.

No final, perdida, com o semblante de ódio, tiques e gestos nervosos, com as mãos sem saber aonde pousá-las, ora no queixo, ora dobradas e em desassossego, ora nas proximidades dos olhos, típicas do desesperado, rendeu-se por completo, até ser entrevistada sem sucesso pela repórter do SBT. Nocauteada, física e espiritualmente, como o lutador que batido mostra-se grogue e sem chances de não reconhecer a superioridade do adversário, foi à lona, engolfada pela própria campanha que desenvolveu, fundada em mentiras sobre mentiras e em acusações torpes e violentas contra seus oponentes.

Colhe agora o que plantou, com seu marqueteiro e seus assessores insensatos e coléricos, ao longo de todo o processo eleitoral, prestes a encerrar-se. Estribada na agressão sem limites, entendia que poderia destruir Aécio, como o fez em relação a Marina. Insiste no passado e volta-se contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem atribuiu em carta o epíteto de estadista do Brasil. Assim, foi perdendo o jogo. E, mais ainda, perdeu a ocasião de mostrar-se digna de exercer com brio a magistratura superior da República.

Bem, que seja feita a vontade popular, soberana, em nome da qual institui-se o governo.(Paulo Figueiredo)
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