Doença social – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Lester Thurow um conhecido professor do Massachussets Institute of Technology, onde foi titular de Economia e Administração, acadêmico muito lido e respeitado, publicou apreciável conjunto de obras, o que lhe conferiu ainda mais autoridade nas opiniões que costumava manifestar. Li uma interessante entrevista do mestre e economista antes de falecer a Folha de S. Paulo na qual teve a oportunidade de tecer duros comentários a respeito da América Latina e do Brasil, que se encaixa como uma luva nos dias de hoje. O cerne de suas críticas repousa na falta de projeto para a região e para o nosso país em particular. Certo de que, para quem não tem rumo, qualquer direção serve, com pesada franqueza indaga se, entre nós, existe pelo menos a noção do que pretendemos ser nos próximos dez anos. A resposta é curta e contundente: Acho que não. Comparando a Índia e a China com o Brasil, dispara a convicção de que, a manter o atual sistema educacional, nosso país jamais conseguirá competir com aqueles dois emergentes, cuja dianteira em relação a nós é clara e evidente.


A seguir, convidando-nos a ter coragem de encarar nossas fraquezas, resume-as principalmente a cinco: baixa competitividade de mão-de-obra, juros elevadíssimos, sistema jurídico arcaico, falta de infraestrutura ou em péssimas condições de utilização e baixo nível educacional. O que haverá de errado nas observações colocadas em debate? Com certeza, uma ou mais deficiências omitidas, nunca exagero nas cobranças. Exatamente porque o espaço não o comporta, estacionemos no nosso atrasado e caótico sistema educacional. Acho que não precisa ser especialista no tema para percebê-lo e dentro de nossas próprias casas. Além de não sermos capazes de estruturar um bom nível educacional para a população, também não logramos, porque não temos estratégia, estabelecer prioridades para as nossas definições de política educacional, tímidas, quando existem, atabalhoadas, quando o governo começa a tentar modelá-las.

O impressionante é que tudo isso ocorre ou deixa de acontecer em esfera na qual um país pode se tornar rico, pela primeira vez na história, controlando e vendendo conhecimento. Não há exemplo mais elucidativo do que a indústria de software, que uma combinação sinistra de coronéis nacionalistas e tecnocratas esquerdistas, entrincheirados na famigerada SEI, acabou por inviabilizar aqui no Brasil, talvez para sempre, em termos competitivos. O governo Bolsonaro nunca envidou esforços para modernizar o ensino brasileiro. Não foi além das preliminares, nesse jogo que envolve tantas decisões em torno de uma ideia de desenvolvimento, se confrontarmos a marcha encetada e o caminho percorrido com o tempo perdido, as oportunidades esvaecidas e a incompatibilidade entre a pressa que nos empurra e o stop and go que nos encurrala. O Ministério da Educação serviu e bem de órgão de manipulação e compensação política. É de esperar que tal prática esteja sepultada nos porões da irresponsabilidade para ainda termos tempo de agir, mas só repito, só no próximo governo, porque esse que aí está, dilapidou a cultura e o ensino nacional.

Para se ter uma ideia da “cultura” do nosso povo, é bom saber que entre os mais vendidos está um “livro” que ajuda a compreender a verdadeira essência da identidade masculina. E um de um tal John Gray que explica que homens e mulheres são diferentes porque gerados em planetas diferentes. Sem falar nas baboseiras dos programas de TV e centenas de publicações que giram em torno de sexo e bruxaria. Cerca de 80% das vendas são de didáticos com erros calamitosos. Infelizmente, pela pandemia e pela desconstrução da cultura e educação do governo acho difícil recuperarmos essa geração que foi prejudicada.

Artigo anteriorReajuste aos professores é uma ‘bomba’ de R$ 30 bi que cai no colo dos prefeitos
Próximo artigoMãe joga filha de 3 anos dentro de jaula de urso no Uzbequistão

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui