Ex-presidente do DEM tem prisão decretada por envolvimento na morte de crítico de Caiado

Ex-presidente do DEM, Cacai Toledo (esq) e Fábio Cavalcante empresário morto (dir) - Foto: Montagem

A 1ª Vara Criminal de Anápolis decretou, ontem quinta-feira (16), a prisão preventiva de sete pessoas envolvidas no assassinato de Fábio Alves Escobar Cavalcante. Entre eles está Carlos César Savanasto, o Cacai Toledo, ex-presidente do Democratas (DEM) da cidade, partido do atual governador de Goiás, Ronaldo Caiado.


Segundo a comarca, existe “prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria”. Além de Cacai, outros dez policiais militares já foram presos durante a Operação Tesarac, que investiga a morte de Escobar e outras sete execuções realizadas para encobrir o caso.

Com a prisão de Cacai, a tese de que a motivação do crime foi política ganha cada vez mais força, tendo em vista que a vítima costumava tecer críticas frequentes nas redes sociais à gestão do governo do Estado.

Quem foi Fábio Escobar?

Na noite de 23 de junho de 2021, Fábio Escobar tomou um táxi para participar de uma reunião de negócios. Representante comercial, ele estudava comprar uma lavanderia no bairro Jamil Miguel, em Anápolis.

Escobar já era do ramo e chegou a comentar com o taxista que estava a caminho de uma vistoria do imóvel. Porém, ao descer do veículo, foi alvejado por quatro tiros. Ele chegou a ser socorrido pelo motorista, mas não resistiu e faleceu assim que chegou ao hospital.

A morte teve ampla repercussão local, tendo em vista a atuação de Escobar na coordenação da campanha do então senador Ronaldo Caiado (2015-2019), que venceu o pleito pelo Executivo estadual em 2018 e conseguiu se reeleger no ano passado. Este ano, porém, Caiado trocou o DEM pelo União Brasil.

Filho de José Escobar, que além de vereador de Anápolis e integrante do MDB, Fábio optou pela direita em 2018. Mas logo após a posse, o antigo coordenador de campanha passou a criticar Caiado. Em março de 2013, Escobar afirmou que o governador desprezaria pessoas sem estudo, rebatendo que nem todos são filhos de fazendeiro e têm a oportunidade de estudar medicina. Caiado é médico.

Fábio Escobar divulgou ainda que tinha dúvidas em relação às doações legais na campanha do DEM em Anápolis e publicou um vídeo nas redes sociais em que afirmou ter recebido uma tentativa de suborno de R$ 150 mil. A condição era: “ou pega ou morre”. O militante devolveu o dinheiro.

Escobar fez diversas denúncias, amplamente noticiadas pelo site Goiás24horas. Mas, em 2020, o jornalista responsável pelo veículo, Cristiano Silva, foi agredido enquanto apurava uma reportagem crítica ao governo. A agressão sofrida por Silva nunca foi apurada pela polícia ou pelo Ministério Público, levando-o a deixar o Estado em busca de segurança.

Súplica

Apesar de dizer, nos vídeos, que não se calaria e não tinha medo de fazer denúncias, Fábio Escobar passou a temer pela própria vida depois de participar do velório de Benjamin Beze Júnior, suplente do senador Jorge Kajuru (PSB-GO), no dia 2 de março de 2020.

Na ocasião, Escobar percebeu que alguns policiais o encaravam. O ex-coordenador de campanha do DEM também já teria sofrido uma emboscada, quando foi perseguido por PMs e quase foi encurralado em uma rua sem saída. Ele só conseguiu escapar porque um ônibus saiu de uma garagem.

Fábio, então, enviou uma mensagem para Ronaldo Caiado. Ele disse que não queria morrer e esperava que a vida fosse poupada por ter dois filhos pequenos para criar. Ele também pediu que o governador repassasse a mensagem a Jorge Caiado, primo do governador, temido por ter conhecidos na PM.

Outras execuções

Para criar a emboscada que daria fim a Fábio Escobar, os envolvidos criaram uma persona, chamada Fernando, além de usar o aparelho roubado de Bruna Vitória Rabelo Tavares para atrair a vítima até o local da execução.

O companheiro de Bruna Tavares seria um traficante de drogas. O casal estava em um motel quando foi abordado e agredido por dois policiais, um deles reconhecido pelo companheiro. Após o incidente, o casal registrou um boletim de ocorrência.

Dois meses depois de executar Escobar, os policiais assassinaram Bruna, grávida de sete meses. Horas depois, Gabriel Santos Vital, Gustavo Lage Santana e Mikael Garcia de Faria, todos amigos do casal, também foram assassinados por PMs, que alegaram que houve confronto porque o trio teria matado a gestante.

A partir da quebra do sigilo das comunicações dos policiais envolvidos no caso, a investigação constatou que os PMs acreditavam ter controle da situação, além de monitorar as quatro novas vítimas em tempo real com um rastreador eletrônico.

Em janeiro de 2022, uma nova matança. Bruno Chendes, Edivaldo Alves da Luz Júnior e Daniel Douglas de Oliveira Alves, também amigos do casal, foram torturados e mortos pelos policiais, que queriam saber a localização do companheiro de Bruna.

Movimentações suspeitas

A polícia identificou que, três dias antes da execução de Escobar, o celular de Bruna estava nas imediações da residência do sargento Welton da Silva Veiga, já investigado por envolvimento em outro homicídio.

Assim, em janeiro deste ano, quando os policiais civis tentaram prendê-lo, Veiga reagiu, atirou contra os policiais e se suicidou com um tiro na cabeça.

Na residência, além de armas de calibres 38 e 49, máscaras, uma placa de veículo e roupas sujas de sangue, os investigadores descobriram movimentações de R$ 6 milhões ao longo de quatro anos. Outros R$ 5,8 milhões foram recebidos entre o fim de 2020 e 2022.

Apesar de revelar o envolvimento de policiais militares no crime político que assassinou Fábio Escobar e outras sete pessoas, a investigação ainda não descobriu (ou não revelou publicamente) o mandante do crime.

Fonte: jornalggn

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