Exército retira centenas de venezuelanos de praça em Boa Vista

Entrada da Simón Bolívar é controlada pelo Exército na manhã deste domingo (6) (Foto: Emily Costa/G1 RR)

Mais de 200 militares e 100 civis começaram por volta das 5h deste domingo (6) uma operação para retirar mais de 830 venezuelanos que estavam acampados na praça Simón Bolívar, em Boa Vista.


Os imigrantes, que já tinham sido cadastrados, são levados de ônibus para dois abrigos temporários na capital, ambos na zona Oeste. Há mais de um mês, a praça Simón Bolívar foi cercada com tapumes pela Prefeitura de Boa Vista.

Em longa fila, venezuelanos aguardam para embarcarem em ônibus com destino a dois abrigos temporários em Boa Vista (Foto: Emily Costa/G1 RR)

Segundo o coronel Swami Fontes, assessor da Força Tarefa Logística e Humanitária, a operação já era planejada há dias, e ocorreu neste domingo porque o novo abrigo temporário Santa Tereza foi finalizado na noite de sábado (5).

Além dos 215 militares da Força Tarefa Logística Humanitária, participam da ação 25 guardas civis nunicipais, além de servidores da Secretaria Municipal de Gestão Social e integrantes da ONU.

Os abrigos para onde os imigrantes são levados são o Latife Salomão, unidade com 400 vagas aberta no dia 24 de abril, e o Santa Tereza, que tem 500 vagas, e começa a funcionar neste domingo.

“Todos que estão na praça Simón Bolívar serão abrigados nesses dois locais temporários porque eles têm capacidade suficiente para todas essas pessoas, são 900 vagas disponíveis “, afirmou o coronel.

Venezuelanos em fila para embarcar em ônibus e deixarem a praça Simón Bolívar (Foto: Emily Costa/G1 RR)

No início da retirada, os militares instalaram banheiros químicos e bebedouros no espaço cercado da Simón Bolívar. Depois, organizaram filas e começaram a esvaziar a praça.

Antes do embarque, as bagagens e os pertecentes dos venezuelanos são vistoriados e embalados em sacolas plásticas. O objetivo, segundo o Exército, é evitar a entrada de drogas e armas nos abrigos. Três ônibus fazem a transferência dos imigrantes. O trabalho é custeado com os R$ 190 milhões liberados pelo governo federal ao Ministério da Defesa.

Até este domingo, a Simón Bolívar não tinha banheiros e nem água potável. Mesmo assim, era o principal ponto de aglomeração de venezuelanos recém-chegados a Boa Vista. O local começou a ser ocupado no final do ano passado e foi cercado com tapumes no dia 24 de março sob a justificativa de que será reformado pela Prefeitura.

Colchões, barracas improvisadas e entulhos na praça Simón Bolívar, em Boa Vista (Foto: Emily Costa/G1 RR)

A vida na praça era completamente improvisada. Os moradores se instalavam em barracas de camping, ou estruturas de lona e madeira. Outros dormiam sobre papelões, e a situação se agravava em razão da chegada do período chuvoso na capital. Para se alimentar, eles faziam fogueiras e cozinhavam até mesmo em latas de tinta.

“A vida aqui era bem ruim, não tínhamos água, não tínhamos banheiro para fazer nossas necessidades. Acreditamos que nossa vida será melhor no abrigo”, afirmou o venezuelano Jesus Sifontes, que vivia desde fevereiro na praça, e era um dos coordenadores da ocupação.

Venezuelanos em fila para deixar a Simón Bolívar, no bairro Pricumã, zona Oeste de Boa Vista. (Foto: Emily Costa/G1 RR)

Segundo ele, desde a noite de sábado a praça foi fechada para impedir a entrada de novos moradores e garantir que todos que já estavam lá conseguissem ser acomodados nos abrigos.

“Nossa última contagem indicou que tinham 940 pessoas aqui. A maioria dos estados venezuelanos de Anzoategui e Monáguas [ambos no Sul da Venezuela]”, detalhou.

No fim de abril, outra praça cercada com tapumes no Centro de Boa Vista também foi desocupada.

Carmen Freites, 51, vivia na praça desde fevereiro; ‘estou feliz em ir para o abrigo’ (Foto: Emily Costa/G1 RR)

A venezuelana Carmen Freites, 51, foi uma das primeiras a deixar a Simón Bolívar. Ela saiu da cidade de El Tigre e chegou a Boa Vista no final de fevereiro depois de caminhar e pedir carona por dois dias – o G1 acompanhou o percurso.

“Desde que cheguei estava vivendo na praça. Morar aqui não era bom, e só estava piorando por conta das chuvas que aumentam a cada dia. Estava tudo ficando alagado”, disse.

Enquanto os imigrantes se organizavam para sair da praça, outros venezuelanos que estavam do lado de fora aguardavam para tentar entrar na Simón Bolívar.

Alguns alegaram já ser moradores e outros disseram esperar vagas para também irem aos abrigos. Não há, no entanto, previsão para que eles também sejam levados. A entrada e saída da praça é controlada pelo Exército.

Venezuelanos aguardam do lado de fora da Simón Bolívar; alguns alegam já ser moradores da praça e outros querem conseguir vagas em abrigos (Foto: Emily Costa/G1 RR)

“Os dois abrigos para onde as pessoas são levadas têm vagas suficientes para quem está dentro da Simón Bolívar. Quem está do lado de fora tem que ser cadastrado. Até porque podem ser pessoas que estão em trânsito e não querem se abrigar em Boa Vista”, afirmou o coronel Fontes.

Ao chegarem aos abrigos, os venezuelanos vão sendo cadastrados, vacinados e identificados. No Latife Salomão, onde estavam os 200 venezuelanos levados a São Paulo e Amazonas na sexta (4), devem ficar famílias, casais, pessoas debilitadas e idosos. No Santa Tereza devem ser alojados os homens.

O casal Luis Coronado, de 48 anos, e Yusmary Josefina, 44 levado ao abrigo Latife Salomão tem esperança de ter uma vida melhor fora da Simón Bolívar.

Casal Luis Coronado e Yusmary Josefina (Foto: Alan Chaves/G1 RR)

“Na praça nós dormíamos em cima de papelão e plástico e na chuva tínhamos que correr para nos abrigarmos em barracas de outros venezuelanos. Cheguei a comer lixo, mas aqui tudo vai ser melhor”, disse Yusmary.

Com a abertura do novo abrigo temporário Santa Tereza, Boa Vista passa a ter oito abrigos para imigrantes venezuelanos, sendo seis permanentes e dois temporários. Juntos, eles têm mais de 3 mil pessoas. Todos são administrados em parcerias com ONGs, ONU e o Exército, e têm alimentação gratuita.

A previsão é que a retirada da praça termine às 18h. Depois disso, a Simón Bolívar passará por uma limpeza e será fechada para reforma. A Guarda Civil Municipal fará patrulhamento 24h por dia para impedir a entrada de novos moradores.

O G1 procurou a prefeitura de Boa Vista para saber se a reforma da praça já foi licitada e se já há prazo para o começo das obras no local e aguarda retorno.

Imigrantes viviam de forma completamente improvisada na Simón Bolívar; ocupação começou no fim de 2017 (Foto: Emily Costa/G1 RR/Arquivo )

Desde o final de 2015, o estado recebe um número crescente de imigrantes que fogem da crise política e humanitária vivida no regime de Nicolás Maduro. De 2015 a 2017 foram mais 19 mil pedidos de refúgio de venezuelanos em Roraima. A prefeitura da capital diz que 40 mil estão vivendo só em Boa Vista.

Atualmente, a ONU estima que 800 cruzam a fronteira de Roraima por dia. O Exército, no entanto, avalia que são 400. Só entre janeiro e fevereiro, quase 3 mil pediram refúgio e outros 7,9 mil solicitaram residência temporária à Polícia Federal em Boa Vista.

Fonte: G1

Artigo anteriorMagistrados e membros do MP repudiam declarações de Gilmar Mendes
Próximo artigoExpovale prepara mais de 3.000 bandas de Tambaqui assadas, em Rondônia

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui