Independências dependentes (Por George Dantas)

Ambientalista George Dantas(AM)

Ainda repercutindo o feriado da elevação do Amazonas a categoria de Província no dia 05/setembro, do Dia Mundial da Amazônia também comemorado em 05/setembro e da celebração do Dia da Independência do Brasil em 07/setembro,  são três eventos distintos, porém, intrinsecamente ligados entre si e todos eles trazem a sensação que a independência não foi assim tão benéfica como esperavam à época.
No Amazonas, embora estejamos separados do Grão-Pará, essa categorização do Amazonas no passado, não reflete a realidade de uma elevação, somos um estado-continente e disso decorrem inúmeros problemas  sejam de ordem social, econômica ou cultural. Transformamos Manaus numa cidade com um inchaço populacional, atraindo pessoas em busca do Eldorado industrial que representa o Polo Industrial de Manaus, e por conta disso, o  poder público não consegue atender as demandas mais comezinhas, tais como atendimento básico de saúde,  creches e educação fundamental e especialmente moradias, o déficit de habitações obriga a  população a ocupar áreas de risco, seja em barrancos ou a margem de córregos /rip-raps, na maioria das vezes em condições sub-humanas. Com um estilo de viver parecido com  a idade média, nossa sociedade não consegue nem fazer o descarte correto do lixo urbano, seja pela falta de sensibilidade ambiental ou pela ausência do poder público na coleta regular dos resíduos urbanos.


Depois de 165 anos de independência,  o Estado do Amazonas ainda apresenta índices de desenvolvimento humano equivalente ao começo do  século XX, ainda hoje, existem centenas de milhares de famílias que não tem acesso a água potável, não tem acesso a saneamento básico, existe déficit nas áreas de saúde, onde não temos suficientes hospitais, clinicas e médicos para atender a demanda e por conta disso, filas imensas se formam, onde o cidadão precisa madrugar para ter a chance de ser atendido por um médico do estado. No plano educacional, nosso estado está na rabeira da avaliação do ensino brasileiro, onde apenas recentemente passamos a adotar a educação integrada como ferramenta de transformação.

Para a Amazônia, o contexto é ainda pior, temos uma data para celebrar o Dia Mundial da Amazônia, mas não temos o que celebrar. Hoje enfrentamos a maior escalada no desmatamento na região, temos a proteção do meio ambiente sobre forte pressão com a construção de mais de sete hidrelétricas que  milhares de hectares de terra produtiva expulsando milhares de ribeirinhos e levando a morte centenas de milhares da animais silvestres e aquáticos. Com tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, é possível ainda comemorar essa data? – Certamente que não, o desafio é imenso e os recursos para o combate ao desmatamento são  cada vez mais escassos. O bioma Floresta Amazônica foi constituído em mais de 50 milhões de anos, segundo estudos e, em pouco mais de 100 anos ele terá desaparecido, caso as taxas de desflorestamento continuem nesse patamar. Nossa maior região com a maior megadiversidade do planeta tem data marcada para desaparecer do planeta caso não façamos nada para impedir essa destruição, lenta, mas contínua.

O Brasil como federação tem muito para avançar nesse processo de independência, é verdade que nos libertamos dos grilhões do FMI_Fundo Monetário Internacional, porém, independência vai muito além disso, o Brasil deve assegurar aos seus cidadãos  um sistema de saúde que funcione adequadamente, atendendo especialmente a parcela mais carente da sociedade, assegurando remédios para quem precisa. Hoje em dia, o Brasil enfrenta sua crise mais grave na segurança pública, com cadeias lotadas de delinquentes, onde a maioria desses detentos estão ligados ao trafico de drogas, não importa mais o tamanho das cidades para os traficantes que dominam as comunidades mais carentes onde na ausência do estado, os traficantes adotam famílias e controlam acesso levando submissão e medo a sociedade civil desarmada e oprimida.

Neste ano pós-eleição, vivemos a maior crise ética institucional no período republicano, essa crise moral respinga nas empresas públicas e seus conchavos com grandes empreiteiras com a farta distribuição de “propinas” a agentes públicos do executivo e legislativo e a sociedade vive de sobressaltos para saber qual a próxima etapa da “Operação Lava Jato” e quem são os envolvidos e qual impacto na economia da nação. Realmente, esse Brasil independente necessita ser passado a limpo, com punições severas para corruptos e corruptores, pois um não existe sem o outro, de tal forma que, após a investigação completa de todos esse processo de corrupção no governo, possamos sair mais com instituições mais fortes, com uma governança corporativa mais ampla e com uma ação mais incisiva dentro do Judiciário e da policias constituídas.

Um País se tornará realmente independente quando assegurar uma sociedade mais justa,  igualitária com acesso garantido a saúde de qualidade a população, onde as politicas públicas sejam voltadas para o cidadão, para a proteção ao meio ambiente, das comunidade tradicionais, indígenas e daquelas pessoas que vivem a margem da sociedade como os indígenas, o quilombolas, os grupos de LGBT. Porém a base de uma sociedade independente começa com a garantia do acesso universal a educação publica de qualidade.(George Dantas – ambientalista)

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