A MÃE – por José Ribamar Mitoso

(Dedico para todas as mães e especialmente para Josephina Carneiro, mãe artista e trabalhadora !)


Um amigo querido e cômico, que prefiro declinar o nome, costuma dizer que a fêmea da espécie humana é a única que sangra três dias por mês e não morre! Nenhum outro animal, macho ou fêmea, consegue esta proeza. Isto é muito significativo!

 

O mesmo amigo ainda possui a pachorra de afirmar que nenhum exemplar masculino, de nenhuma espécie do reino animal, conseguiria aguentar a dor do parto. Isto também é muito significativo! Um ponto para todas as fêmeas-mães !

 

 Salve todas as mães trabalhadoras e mães chefas de famílias!
Salve todas as mães trabalhadoras e mães chefas de famílias!

Todavia, o que a prodigiosa imaginação do meu camarada nunca ousou especular, mesmo sendo um artista, é o porquê de machos e fêmeas , que já foram uma coisa só, terem deixado de ser uma realidade única. Isto é: se na evolução das espécies, macho e fêmea, humanos, já foram unicelulares, uma e só coisa, o que houve para se dividirem sexualmente? Como, quando e por que de um sexo surgiram dois? Diga lá , meu camarada!

 

Segundo a bióloga Lynn Margulis, ganhadora do prêmio Nobel, a especialização das células aconteceu há aproximadamente quinhentos milhões de anos. Antes disso, por aproximadamente dois bilhões de anos, a terra foi habitada por seres unicelulares. Por isto, talvez, apenas nos últimos quinhentos milhões de anos é que Deus tenha resolvido criar a mulher com uma costela do homem. Mas, mesmo assim, o fato ainda não está precisamente datado, nem explicado. Os hindus , na Ásia, e os povos Aruak, na Amazônia, possuem visões divergentes da judaico-cristã. A vida é plural, mano, e no Rio Negro, apesar do mito, Deus é mulher . É Deusa. Fica mais coerente com a idéia de criação materna. Hoje , dia das mães, seria também dia da Deusa: Yepá Mashã, criadora e mãe dos povos do Rio Negro!

 

Contudo, foi a partir da data sugerida pela bióloga , então, que começaram a ocorrer uniões simbióticas entre seres unicelulares de metabolismos diferentes., surgindo assim as primeiras células eucarióticas. Foi deste modo que as mitocôndrias, que inicialmente eram bactérias de vida livre, eterna, foram escravizadas por uma arqueobactéria, surgindo uma célula que deu origem aos fungos e animais , num processo de endosimbiose. Posteriormente, , essa célula escravizou os cloroplastos, que também eram bactérias de vida livre, eterna, nascendo daí o reino das plantas.

 

Neste instante da evolução, estes seres, antes unicelulares, passaram a se associar em forma de colônias. Essas colônias se reproduziam sem sexo, por simples divisão , e por isto, eram imortais. Porém, em dado momento, com a divisão do genoma nos gametas, para posterior união no zigoto, surgiu a especialização das células e a divisão em duas colônias: a das células somáticas ( do corpo) e a das células sexuais ( gametas). Foi neste momento que a reprodução da vida deixou de ser por simples divisão de células eternas e passou a ser por um processo de reprodução sexual , finitas.

 

E aqui surgiu o rolo todo! Foi neste instante que começou a surgir a idiotice da morte no maravilhoso processo eterno da vida!

 

As células deixaram de durar para sempre, se reproduzindo sem sexo, e, ainda segundo a genial bióloga, a morte passou a ser programada, nas células somáticas. Neste instante, as colônias de células unicelulares, imortais, viraram seres pluricelulares, mortais, não durando para sempre , envelhecendo e morrendo.

 

Isto levou nossa premiada bióloga a uma conclusão bastante chata: a morte entrou na nossa história com a invenção do sexo! Quando deixaram de ser uma coisa só, unicelulares, machos e fêmeas escolheram um caminho finito e, evidentemente, bastante insensato!

 

Digo isto porque se é a mãe que dá a vida, quem lhe tirou o direito de ser eterna ? Quem lhe impingiu a ingratidão original de gerar a vida e , ao mesmo tempo , morrer? Deus não faria isto!

 

Pelágea Nilovna, A Mãe, do livro escrito por Maxin Gorki, por exemplo. Uma mãe camponesa, miserável, cheia de medos impostos pelo autoritarismo burguês, mas que , em certo momento, acompanhando a luta do filho revolucionário, passou a vender marmitas para continuar a missão política dele, preso por subversão. Uma mãe como esta merece morrer? Para ser justo: Pavel seu filho, mártir da primeira revolução proletária da história da humanidade, merecia morrer? Para ser mais claro e menos sexista: seres humanos que abdicam das suas vidas para lutar pela eternidade da espécie merecem morrer ? Quem inventou os gametas, células da reprodução sexual e da morte?

 

Melhor dizendo e mudando o foco : por que uma mãe trabalhadora e revolucionária, como Pelágea Nilovna, se tornou imortal ? Por que uma mãe como esta superou o tempo e a finitude das células sexuais chamadas gametas?

 

Na tradição cristã, a mãe do filho de Deus não precisou de sexo para gerá-lo. O espírito santo evitou a finitude de seu futuro filho. José, seu pai, entendeu. Existiu uma mãe melhor que Maria ?

 

Sou daqueles seres idiotas que acreditam que o ser humano é produto e resultado das suas circunstâncias, como propôs Marx e como confirmou Sartre.

 

As circunstâncias adversas podem gerar mães ruins e perversas? Bater no filho para educá-lo é resultado de um meio deseducado ou é resultado de um gens alterado?

 

Fui criado por duas mães. Nenhuma das duas nunca me bateu e, talvez por isto, nunca eu tenha batido em nenhum dos meus filhos. Marx estava certo? Como que é mesmo esta história do ser humano ser resultado das circunstâncias?

 

É melhor encerrar este texto.

Salve todas as mães, geradoras da vida!

Salve todas as mães trabalhadoras e mães chefas de famílias!

Se já fomos eternos, unicelulares, uma coisa só, salve a vida eterna para toda a humanidade , novamente possível!

Para que serve mesmo o Projeto Genoma?

 

*José Ribamar MitosoEscritor, Dramaturgo e Professor da UFAM

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