Mamirauá realiza curso de contagem de pirarucus com pescadores da Amazônia

O curso promoveu troca de experiências entre os pescadores Foto: Antônio Almeida

Nos rios e lagos de água doce, não existe peixe de escama maior que o pirarucu. Avistar o animal, que pode chegar a 3 metros de comprimento, em natureza pode parecer tarefa fácil, mas não se engane, é preciso muita paciência e olhos treinados. Habilidades essenciais para o manejo sustentável da espécie. Foi esse o foco do “Curso de Metodologia de Contagem de Pirarucu”, realizado pelo Instituto Mamirauá entre os dias 11 e 13 de setembro no Amazonas.


Sessenta e um pescadores e pescadoras de sete municípios do estado fizeram o treinamento, que aconteceu na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a 600 quilômetros da capital, Manaus.

Curso foi realizado na Reserva Mamirauá, Amazonas – Foto: Antônio Almeida

Entre os participantes, técnicos, moradores de áreas protegidas pela legislação ambiental, indígenas da etnia Tikuna e pescadores urbanos. Pessoas de diferentes origens e realidades, unidas pela atividade da pesca do gigante pirarucu.

Contar pirarucu? Entenda esse processo e porque ele é feito

Para dar conta de um corpo tão grande, o pirarucu tem dois sistemas respiratórios: o branquial (comum entre animais aquáticos) e um respiratório, que se assemelha ao nosso.
Por isso, de tempos em tempos, o peixe amazônico é obrigado a subir à superfície da água para “respirar”, movimento chamado pelos pescadores de “boiada”. Nesses momentos, é feita a contagem de pirarucu.

Contar pirarucus é um saber tradicional de pescadores na Amazônia que foi integrado à metodologia científica do manejo, desenvolvida pelo Instituto Mamirauá.

“Um dos requisitos básicos para participar do curso de metodologia é que a pessoa já tenha esse conhecimento tradicional de ir na captura, na contagem, que conheça a espécie.

Sete municípios do estado participaram do treinamento – Foto: Antônio Almeida

A ideia do curso não é ensinar as pessoas a contar o pirarucu, e sim aplicar essa habilidade à metodologia da pesquisa”, explica o técnico do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá, Jonas Batista.

É a contagem que fornece a quantidade de pirarucus que existem em cada lago de pesca. Esse dado vai determinar a cota anual de pescado a ser capturado e vendido, sem prejudicar a população dos peixes.

São contabilizados pirarucus a partir de 1 metro de comprimento. Do total calculado, é retirado apenas 30% do estoque, para garantir um manejo prolongado e sustentável da espécie.

Troca de saberes na pesca

A prática de contagem aconteceu em duas áreas que estão em diferentes estágios de desenvolvimento no manejo de pirarucu. O setor Jarauá, onde, a metodologia de contagem de pirarucu foi construída pelo Instituto Mamirauá em parceria com os pescadores locais há mais de vinte anos. E Jurupari Grande, que esse ano recebeu a primeira cota de pesca de pirarucus para o manejo.

A escolha foi intencional, como aponta o técnico do Instituto Mamirauá, Ricardo Bonet. “Um dos objetivos do curso é fazer esse intercâmbio e interação entre os grupos que estão iniciando o processo de manejo e outros que estão atuando há mais tempo”.

“Valeu muito a pena esse curso, trocamos experiências de pesca, de contagem, do nosso trabalho ao longo do ano, formamos aquela dinâmica boa com quem veio de fora. A gente aprendeu muito, porque é a primeira vez que vamos fazer a pesca, enquanto outros já tem mais experiência no manejo”, diz Raimundo Nonato, presidente do acordo de pesca Jurupari Grande-Apara.

Cursos de contagem

Desde os anos 2000, o Instituto Mamirauá realiza cursos de metodologia de contagem de pirarucu para pescadores. O treinamento é conduzido por técnicos e pescadores experientes no método.

Para orientar os participantes, o Instituto Mamirauá distribui a cartilha “Contagem e Censo Populacional de Pirarucu – “Contar pirarucu não é história de pescador” (acesse a versão online aqui), publicada com apoio da Fundação Gordon and Betty Moore.

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