O dia nacional do fingimento – por Carlos Santiago

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado

A data de 08 de março será comemorada o Dia Nacional e Internacional da luta da mulher e, também, pode ser considerada como o “Dia Nacional do Fingimento”, pois sempre tem muita hipocrisia, dissimulação, artifício e falsidades no Brasil onde a mulher vive uma realidade bem terrível.


Nesse dia os homens dirão que amam as mulheres e respeitam os seus direitos e as suas lutas por igualdades econômicas e oportunidades. Nem rosas, nem jantares e nem declarações de amor e de fidelidade eterna faltarão.

Instituições brasileiras, públicas e entidades privadas, com fortes valores da cultura patriarcal e machistas, por meios de seus dirigentes, não deixarão de lado o fingimento: mensagens de felicitações e de alegrias chegarão via whatsapp, facebook e e-mail, com cores róseas e lacinhos. Tudo para sensibilizar as mulheres!

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado.

Os políticos machistas usarão as tribunas legislativas para elogiar a contribuição do ser mulher, falarão: elas são as respostas para os problemas sociais, econômicos e familiares do Brasil. Depois, muitos, com aquele sorriso no rosto, próprio do personagem Coringa, lhes darão um certificado de papel com seu nome, como forma de homenagem; outros, com olhares de “ternura”, darão ou mandarão abraços e afagos.

As religiões irão fazer festas, missas e cultos, presenciais e virtuais, dedicados à mulher. Os altares estarão decorados e floridos. Embora, a mulher tenha apenas espaços secundários em muitas administrações religiosas e nas celebrações. Usam sempre a mesma desculpa para que a mulher não tenha protagonismo: ela saiu das costelas de Adão, não foi enviada por Deus para salvar a humanidade e nem morreu na cruz. Mas, a verdade seja dita: todos os religiosos ou não saíram do ventre de uma mulher.

No mundo corporativo. As empresas irão dedicar minutos de agradecimentos pela contribuição do sexo feminino no crescimento e faturamento empresarial, num ambiente de denúncia e de silêncio sobre o assédio sexual e moral, além de baixa remuneração em comparação ao salário dos homens.

Numa rápida leitura social da condição da mulher no país, é fácil constatar que o Brasil é um dos piores lugares do mundo para uma mulher viver. Em plena pandemia cresceu o número de violência doméstica. O feminicídio é um fenômeno que não pára de crescer, independentemente de classe social.

É notória a exclusão da mulher da vida política, não representa nem 15% das cadeiras nos legislativos de todo país, mesmo com o eleitorado formado por 50% de mulheres. A maioria dos partidos políticos é controlada por caciques que somente reproduzem a exclusão, privilegiando candidaturas masculinas.

Mas pasmem! Esse patriarcado brasileiro e o fingimento ganham apoio até de mulheres. Muitas concordam e ensinam suas crias a aceitarem essas relações e amarras sociais. Assim, as desigualdades vão seguindo e reproduzindo-se.

Todo dia deve ser de reflexão e de ação contra qualquer forma de exclusão social, de ódio, de violência e de formas materiais e imateriais contra o ser humano. Nada justifica algumas condições secundárias da mulher no Brasil. Faz-se necessário reconhecer que já aconteceram avanços pontuais no combate às desigualdades como fruto da organização e luta por direitos, mas a estrutura social brasileira ainda é muito perversa com a mulher.

Mas, há de chegar o dia em que os valores, os direitos e o reconhecimento da mulher serão pleno. Sem falsidade, sem cinismo e sem fingimento datado.

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político, Advogado e Membro da Academia de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA.

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