Balneário de luxo da América Latina é famoso por ser um destino dos ricos da região
Poucos jornais noticiaram que Eric Trump, um dos filhos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, viajou em janeiro para Punta del Este, na costa do Uruguai. Ele foi vistoriar um dos projetos mais ambiciosos das empresas administradas pela família: uma torre de 25 andares e 156 dormitórios à beira-mar equipada com heliponto, quadras de tênis e várias piscinas.
Se tudo sair como se espera, a Trump Tower Punta del Este ficará pronta em 2020, cerca de quatro anos depois do planejado inicialmente. As empresas envolvidas na construção, porém, alegam que esse prazo não será cumprido, porque as obras estão avançando em ritmo lento e não há trabalhadores suficientes.
A agência imobiliária responsável pela venda dos apartamentos, cuja sede fica em Miami, nos EUA, já processou a incorporadora local contratada por Trump, e alguns compradores querem vender suas unidades — o que faz com que os preços caiam exatamente no momento em que o empreendimento precisa de mais dinheiro.
De acordo com o jornal NYTimes, a expectativa dos construtores da torre é que ela fique pronta em 2024. O conglomerado administrado pelo presidente dos EUA não costuma assumir as obras dos seus projetos, mas vende a licença do nome “Trump” em troca de uma comissão de 5% nas vendas dos apartamentos. Assim, os problemas com a torre uruguaia são apenas uma partícula se comparados com as questões que as empresas de Donald Trump enfrentam ao redor do globo.
Em fevereiro, as Organizações Trump anunciaram a suspensão dos projetos de hotéis nos EUA, fazendo com que o foco se voltasse para os projetos internacionais de longo prazo, como os projetos no Uruguai, na Indonésia e nos Emirados Árabes. O grande álibi da gigante hoteleira está justamente no seu presidente: o ocupante atual da cadeira presidencial do país.
Uma figura-chave na fase inicial do acordo para a construção da torre em Punta del Este, por exemplo, é agora o ministro da Fazenda da Argentina, Nicolás Dujovne, o mesmo que negociou um empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no ano passado para o seu país — o FMI tem como principal financiador o governo dos EUA.
A torre uruguaia não é o único problema enfrentado pela empresa: um projeto de hotel e condomínio em Baja California, no México, ainda não saiu da estrutura de concreto, e foi abandonado momentaneamente diante de vários processos judiciais. Outro, em Baku, no Azerbaijão, segue fechado depois de atrasos nas obras e excessos de custos (os Trump saíram do consórcio em 2016, quando Donald concorreu à presidência dos EUA). Outros sete projetos internacionais nunca saíram do papel.
Punta del Este é a capital do consumo de luxo da América Latina: durante a temporada de verão, cerca de 400 mil visitantes desembarcam na cidade, cuja população não passa de 20 mil habitantes. Ricos da Argentina, do Brasil, do Chile e do Paraguai se encontram ali para jogar nos cassinos, velejar com seus iates ou comer em restaurantes cinco estrelas — há passagens aéreas Gol diretas para o balneário uruguaio. Segundo a imprensa uruguaia, nomes como Mark Zuckerberg, do Facebook, e a modelo Naomi Campbell, já passaram férias em Punta.
Nos últimos anos, surfando no momento, um grande bosque de arranha-céus cresceu em frente ao mar, fazendo com que a antes tranquila praia se tornasse uma cidade semelhante a Miami. Marcas de luxo como Fendi Chateau e Cipriani já ergueram prédios no balneário, e o preço de um apartamento ali pode chegar a US$ 5 milhões (R$ 19 milhões).
Punta del Este também é famosa por outro fato: durante décadas, argentinos e brasileiros ricos tiraram suas fortunas dos seus países para investir em imóveis em Punta com o objetivo de sonegar impostos. No ano passado, o Uruguai reformou suas leis antilavagem de dinheiro como reação aos processos envolvendo esse tipo de perfil.
