O PT e o burro de Jean Buridan (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)

Jean Buridan, filósofo francês do século XIV, da chamada Idade Média tardia, explicava a psicologia da hesitação ao descrever o caso de um asno que, com muita fome, não consegue escolher entre dois grandes montes de feno postos à sua frente, indeciso entre um e outro, vindo então a falecer de inanição.


A alegoria filosófica do escolástico lembra as indecisões morais e políticas do PT, conquanto com indicações e opções diferentes ou opostas, a seguir. Refunda-se ou não o partido, segundo alguns de seus integrantes, como Tasso Genro, fundador da sigla, ex-ministro de Lula e ex-governador do Rio Grande do Sul? Dentre tantas outras deixadas de lado, o partido abandona bandeiras de origem, que sempre proclamou defender, ou sustenta o pacote que castra direitos dos trabalhadores, que Dilma acaba de enviar ao Congresso? Apoia os ajustes fiscais e econômicos propostos pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy ou adota o receituário considerado neoliberal da Escola de Chicago, que sempre condenou no passado? Toma posição induvidosa ao lado de quem defende a moralidade pública e a ética na política ou sucumbe de vez diante dos escândalos de corrupção na Petrobrás, exatamente como procedeu no caso do Mensalão, ao absolver, em avaliação ‘interna corporis’, alguns de seus medalhões condenados pelo Supremo Tribunal Federal? Reorienta-se na composição de alianças com o que há de pior no fisiologismo político ou contribui para passar a limpo a ação parlamentar e partidária no país, com acordos programáticos, escoimados do toma lá dá cá? Adota o sistema de mérito no preenchimento de funções e cargos públicos ou insiste no aparelhamento do Estado? Faz um mea-culpa sobre erros cometidos nos governos petistas, especialmente em relação à corrupção, que se alastra como metástase pelo corpo da Nação, ou continua com o discurso da indiferença de quem nada sabe ou nada viu, quando não sai em defesa de práticas deletérias e condenáveis pela população brasileira? Abandona ou não a manipulação criminosa de recursos espúrios que azeitam suas campanhas milionárias? Revê suas posições sobre a liberdade de comunicação e expressão ou permanece advogando o chamado controle social da mídia, típico de regimes autoritários e antidemocráticos?

A relação é extensa e os dilemas são enormes. Tudo indica que a sede de poder pelo poder e a promiscuidade entre o público e o privado são de tal ordem que ficará difícil a tomada de decisões que possibilitem a reconstrução do PT. De mais a mais, não há em seus atuais dirigentes e lideranças nenhuma disposição para autocrítica. Nenhum deles é capaz de reconhecer os profundos desvios de rota do partido e de seus representantes mais emblemáticos, cuja atuação nega no presente os princípios e propósitos com base nos quais erigiu-se como legenda alternativa contra velhos padrões de procedimentos políticos.

O metalúrgico Lula da Silva, primeiro presidente eleito pela sigla, desvirtuou-se por completo,  ou, desvirtuado desde sempre, entregou-se ao cinismo absoluto. Representa a face mais nefasta do partido que criou, quem sabe, observadas as características atuais, à sua imagem e semelhança, a ponto de negar a verdade dos escândalos patrocinados pelo partido. No caso do Mensalão, após se dizer traído e envergonhado quando da eclosão do esquema corrupto, agora afirma que o crime nunca existiu e prega a revisão dos fatos, na tentativa de remover a chaga que inquieta e continua sangrando na história do PT e em sua própria biografia. Procede da mesma forma em relação ao Petrolão, ao aconselhar a militância radicalizada do partido a resistir, atribuindo à mídia a responsabilidade sobre o imbróglio Petrobrás. No mesmo sentido, a figura pequena e caricata de Rui Falcão ameaça processar quem revela a participação da legenda na petroroubalheira, que embolsou cerca de 200 milhões de dólares surrupiados dos cofres da estatal, via Vaccari Neto, dinheirama destinada a financiar a eleição de candidatos petistas, em 2010 e 2014, conforme o depoimento do delator Pedro Barusco.

Tem razão a senadora e ex-ministra Marta Suplicy, quando diz que todas as vezes que abre um jornal fica estarrecida com os desmandos do PT, em recente entrevista concedida ao Estadão. Indaga-se indignada se terá sido realmente esse o partido que ajudou a construir? Como adverte a petista, prestes a deixar a legenda, ou o PT se recicla ou morre, exatamente como o burro de Buridan.

Se bem que, se o partido fosse o asno do filósofo, não tenho dúvida de que não hesitaria um segundo em comer os dois montes de feno. Bem, é esperar para ver.(Paulo Figueiredo – Advogado, escritor e comentarista político – [email protected])

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