Voto Marcelo

Advogado Paulo Figueiredo(AM)

Paulo Figueiredo


Nestas eleições para a Prefeitura de Manaus, havia tomado a decisão de votar nulo, no primeiro e segundo turnos. No entanto, mudei de ideia, fruto de uma reflexão mais apurada, e votarei em homenagem a Manaus.
Meu voto é de protesto, contra tudo o que fizeram contra a cidade. Manaus anda tão abandonada, tão maltratada, que dá pena, de cortar o coração de quem a ama de verdade. Suas ruas e avenidas, com calçadas raras, nunca estiveram em condições tão precárias, tão arrebentadas, verdadeiras pistas de tobogã, um tormento para os pedestres e proprietários de veículos automotores.

Advogado Paulo Figueiredo(AM)
Advogado Paulo Figueiredo(AM)

O trânsito é caótico, dos mais pesados e congestionados do Brasil, em termos relativos, sem que nenhuma das soluções prometidas há quatro anos tenha sido implementada pela administr ação municipal. No longo período, nenhuma nova via e nenhum novo corredor foram abertos ao tráfego,  a fim de suportar ou minorar o fluxo crescente de carros postos a circular todos os dias na urbe. No horizonte, nem ao menos qualquer sinalização no sentido do transporte de massa, com modais possíveis e conjugados, únicos capazes de resolver os graves problemas de locomoção urbana de grandes contingentes populacionais.

Desfigurou-se ainda mais o rosto da cidade e não há nenhuma obra digna de registro e muito menos de aplausos. A região central, com alguns remendos equivocados, tocados sem planejamento, o improviso indefectível, mostra-se em processo de franca e acelerada decadência urbanística. Não há integração do grande e tradicional comércio no Centro, instituído ao longo de muitos anos, com os prédios e monumentos que insistem em revelar a história de Manaus, como mal ou bem havia em nosso tímido passado de província. E, mesmo assim, nada se fez ou faz para alcançar esse propósito, nenhum projeto assentado valores culturais pretéritos, sólidos e respeitáveis, como forma de valorização do sítio que serviu de berço para o nascimento da cidade, entregue a predadores de várias origens e matizes.

Se os locais mais nobres e visíveis de Manaus encontram-se em estado lastimável, bem mais grave é a situação de suas áreas periféricas. Em seus bairros mais distantes, a desassistência é absoluta e a ausência do poder público é patente em todos os aspectos. A inexistência de saneamento básico, presente em assentamentos desordenados, com esgotos a céu aberto e valas negras, com a omissão em relação a serviços públicos primários, como direito elementar de qualquer habitante da cidade, dão o tom da irresponsabilidade e da falta de compromisso com o s segmentos mais sofridos e desamparados da sociedade.

O quadro é dramático, em todos os setores da gestão pública, cuja relação é dispensável, porquanto bastante repisada e por isso mesmo tediosa. Manaus é uma cidade complexa, intumescida em dimensões intoleráveis, vítima de uma onda migratória permanente, na condição de polo de atração operada pelo modelo Zona Franca. Trata-se de uma singularidade que a torna extremamente vulnerável e dependente de recursos financeiros a serem aportados pelos governos estadual e federal, sem os quais é difícil ou impossível administrar o Município. Lá at rás, durante a campanha de 2012, esses óbices foram levantados e muito bem expostos, mas em nenhum momento considerados. Importava ganhar a qualquer preço a eleição, nem que para tanto a realidade fosse escamoteada, com o discurso fácil de que tudo a seu tempo se resolveria, ainda que em campo oposto ao poder central e a suas indispensáveis dotações. Ciente de que os empecilhos não seriam vencidos e sem admitir a candidatura alternativa, certamente pior, optei pelo voto nulo, que advogo como válido, desde que não haja outras possibilidades merecedoras do sufrágio confiável.

Bem, deu no que deu, na irremediável falência de projetos desde sempre irrealizáveis, sepultadas de vez as promessas eleitorais demagógicas, inviáveis e impossíveis de serem cumpridas. Assim, tinha-se que encontrar um bode expiatório: no primeiro momento, o governo federal e seus representantes, antigos inimigos e agora aliados; a seguir, o governo estadual e seus representantes, antigos aliados e agora inimigos. Extremamente frágil, como estratégia, a retórica não convence, apesar de dita e repetida com a conhecida e proverbial veemência, sobremodo porque jamais poderá justificar os graves erros e a in&ea cute;rcia do mandato político municipal.

Diante de tantas razões, vejo-me votando em Marcelo Ramos e nele voto fundamentalmente pela alternância de poder. Salvo engano, e faço a ressalva em homenagem aos anos que já me são longos, ouvi de quem hoje disputa mais um mandato que jamais seria candidato à reeleição, presidido pela mesma preocupação que resolvo observar, da rotatividade nos cargos eletivos. De mais a mais, Marcelo é jovem, indica mudança. E, no albor da vida pública, pode guardar inspiração nos sentimentos que fizeram a nacionalidade tomar conta das ruas e praças do país, exigindo moralidade, ética n a política, honradez e operosidade no trato da coisa pública.

Estou apostando, vamos ver. Pelo menos, aqui nesta página e em outras tantas de ofício, vou cobrar.(Paulo Figueiredo é Advogado, Escritor e Comentarista Político – [email protected])

Nota do Autor: * Artigo censurado pelo jornal Diário do Amazonas, sem qualquer justificativa, onde escrevo há muitos anos, fazendo com que deixe de publicar minha coluna semanal a partir de hoje no referido periódico.

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