Brasil tem Cloroquina encalhada para abastecer cidades por até 100 anos

Em alguns estados e capitais, até 92% das doses recebidas foram devolvidas ou estocadas – foto: Yahoo Notícias

Aposta política do presidente Bolsonaro (sem partido) para tratamento precoce da Covid-19 – apesar de não haver comprovação científica –, comprimidos de cloroquina e hidroxicloroquina estão encalhados em estoques de municípios e estados brasileiros. Há casos em que o padrão de retirada serviria para um século de abastecimento.


No total, o Ministério da Saúde informa ter distribuído ao menos 5,9 milhões de comprimidos do remédio em todo o país. O Metrópoles consultou todas as 27 secretarias de Saúde das unidades federativas, e solicitou informações às prefeituras das principais capitais brasileiras e grandes cidades do interior, com o intuito de mapear os estoques do medicamento.

Procuradas há mais de uma semana, 16 secretarias estaduais de Saúde responderam – as outras 11 não se manifestaram. Juntas, receberam 4,715 milhões de comprimidos de cloroquina. Deste total, no entanto, 1,161 milhão de doses já foram devolvidas para o Ministério da Saúde e 484 mil, estocadas e guardadas para eventual futuro uso.

Só os efetivamente devolvidos, somados aos armazenados para qualquer eventualidade de súbito interesse pelo remédio, representam o não uso de quase 35% do total enviado pelo governo federal a todo o país – e com o balanço de 16 unidades federativas, não das 27.

Mesmo nos 65% restantes, porém, os relatos são de quase total desinteresse pela substância defendida por Bolsonaro. Logo, os 2,449 milhões de comprimidos enviados (ou seja, não estocados nem devolvidos) por esses estados podem ainda estar parados nas inúmeras cidades brasileiras.

Medicamento pagos pelo governo

A apuração sinaliza que, nos próximos meses, pode haver uma nova enxurrada de remessas ao Ministério da Saúde de medicamentos pagos pelo governo federal, em meio à campanha intensiva do presidente da República em defesa da cloroquina, e prestes a vencer.

De acordo com informações obtidas pelo Valor Econômico junto às Forças Armadas, o valor de produção de cada comprimido de cloroquina e hidroxicloroquina, no Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx), é de R$ 0,21. Assim, os 2,449 milhões de pílulas enviadas custaram cerca de R$ 514,3 mil para serem confeccionados.

Esse preço, entretanto, é uma estimativa. Isso porque o preço da cloroquina subiu desde que a informação foi fornecida pelo Exército, em abril de 2020. A cotação levava em conta o preço de R$ 488 por quilo de cloroquina e a própria força já trabalhava com uma possível inflação do insumo. Além disso, não estão incluídos neste cálculo os gastos de logística e armazenagem dos produtos encalhados no Brasil.

Leia mais: TÁCIO LORRAN – Metrópole

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